quarta-feira, 27 de junho de 2018

Mostra no Masp e Tomie Ohtake retrata fluxos da cultura africana para além da escravidão


Exposição reúne 432 obras de mais de 200 artistas de 14 países diferentes
'O Negro Cipião', 1866-68, de Paul Cézanne ,que estará exposta no Tomie Ohtake


O Masp e o Instituto Tomie Ohtake inauguram, na quinta (28) e no sábado (30), respectivamente, uma exposição dois em um. As duas instituições culturais uniram seus espaços para abrigar 432 obras de 210 artistas de diferentes países.

A mostra faz parte do ciclo do Masp que, neste ano, dedica-se às histórias afro-atlânticas, isto é, trajetórias que ligam a África às Américas. Trata-se da maior mostra da atual gestão do museu, que assumiu em 2014.
Historiadora, antropóloga e curadora das duas instituições, Lilia Schwarcz afirma que a exposição é uma espécie de desdobramento da mostra ‘Histórias Mestiças’, realizada em 2014 no Tomie Ohtake. ‘Ali, trabalhamos com o território brasileiro. Agora, tivemos que tomar uma perspectiva transatlântica’, diz Schwarcz.
Desta forma, a megaexposição congrega obras de artistas brasileiros, latino-americanos, europeus, dos EUA e de países africanos. 
Dos oito núcleos criados para a exposição, seis estão distribuídos em quase todo o espaço do Masp —exceto o segundo andar, dedicado à exposição permanente, e parte do primeiro subsolo, que expõe obras do comodato com  a B3, dona da Bolsa de Valores de São Paulo.
Já o Tomie Ohtake, responsável por dois núcleos, abordará os temas Emancipações e Ativismos e Resistências.
Entre os artistas que terão obras apresentadas estão os americanos Benny Andrews e Emory Douglas. ‘Quisermos dar voz a artistas modernistas americanos negros que muitas vezes ficam ofuscados’, diz o curador Tomás Toledo.

Montagem da Exposição Afro-Atlântica, que ocupa grande parte do Masp


Também americano, Andy Warhol tem serigrafias expostas na mostra. Lilia Schwarcz afirma ele tem um importante papel na exposição, já que é o único do grupo a tratar de questões de gênero, com a imagem de mulheres negras transexuais. 

Segundo a historiadora Lilia Schwarcz, não seria possível mostrar uma cronologia da arte sobre as histórias afro-atlânticas, que reúne obras desde o século 16, sem a presença de artistas brancos.

Além disso, ela afirma que, para dialogar com a história africana, é necessário ter exemplos de artistas que a retrataram e viveram o início da colonização. Na mostra, há 55% de artistas negros. 

‘Ao colocarmos imagens de artistas dos séculos passados próximas de artistas contemporâneos como americanos, jamaicanos e cubanos, isso permite uma releitura dessas imagens para que possamos notar a perversidade delas’, diz a historiadora.


Obra de Janaína Barros que está exposta no Instituto Tomie Ohtake

Um desses exemplos, que está na exposição, é a fotografia do século 19 em que uma ama negra está de cócoras com uma criança branca montada em suas costas. Na expografia, essa imagem está justaposta a uma obra do artista americano Titus Kaphar que, em uma imensa tela, reproduz a figura da escrava e recorta a criança da cena.

Entre as instituições internacionais que emprestaram obras da sua coleção estão o Metropolitan Museum, de Nova York, o J. Paul Getty Museum, de Los Angeles, a National Gallery of Denmark, de Copenhague, o Museu Nacional de Bela Artes de Havana e a National Gallery da Jamaica.

As obras vieram de 14 países para os aeroportos de Viracopos e Guarulhos. O Masp e outros centros culturais vêm enfrentando problemas com a vinda de obras internacionais desde o início do ano. Isso porque os aeroportos brasileiros mudaram a política de cobrança da armazenagem. Antes, cobrava-se uma tarifa calculada com base no peso da carga. Agora, cobra-se pelo valor dela.

Com isso, o Masp, que havia programado pagar R$ 3.000 pela armazenagem das obras, teria de desembolsar R$ 4,5 milhões pela nova regra, como informou a coluna Mônica Bergamo. Para viabilizar a exposição, o museu entrou com um mandado de segurança para garantir a cobrança do valor antigo e reverteu o quadro.

Esta não é a primeira vez que a nova tarifação ameaça o museu. Em maio, obras da Tate Gallery, de Londres, só vieram ao Brasil após um mandado de segurança ser impetrado, impedindo uma cobrança que encareceria em mais de R$ 240 mil a mostra.

Histórias Afro-Atlânticas 
A partir desta qui. (28) para convidados e sex. (29) para o público até 21/10
Masp, av. Paulista, 1.578
Ter. a qua. e sex. a dom., das 10h às 18h, e qui., das 10h às 20h
R$ 35
Tomie Ohtake, av. Faria Lima, 20
Sáb. (30) para convidados das 11h às 15h; aberto ao público em seguida
Ter. a dom., das 11h às 20h
Grátis





 Texto: Isabella Menon   |   FSP



(JA, Jun18)

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