sexta-feira, 15 de junho de 2018

A comunidade global que compartilha cenas de cidades em desenhos

Nada de fotografia. Artistas, desenhistas ou ‘croquizeiros’ registram paisagens urbanas em registros instantâneos e expõem na internet


Vista do Arpoador no Rio de Janeiro, por Eliane Lopes

Regra número 1: nós desenhamos no local, em ambiente interno ou externo, capturando o que vemos por observação direta. Regra número 2: nossos desenhos contam histórias do nosso entorno, dos lugares em que vivemos e por onde viajamos. Regra número 3: nossos desenhos são um registro do tempo e do lugar.
Outras regras falam sobre como os desenhos devem ser fiéis à cena, como seus membros se ajudam e desenham juntos, ou ainda como todo desenho deve ser publicado on-line. ‘Nós mostramos o mundo, um desenho por vez’ fecha a lista.
Essas são algumas das condições para se fazer parte da comunidade internacional de urban sketchers, artistas por formação ou autodidatas que retratam cenas ao vivo do mundo à sua volta por meio de desenhos rápidos ou croquis.
O grupo nasceu em 2007 pelas mãos do jornalista espanhol Gabriel Campanario, conhecido por ilustrar todo texto seu publicado no jornal americano The Seattle Times com um desenho. 
Na época, Campanario criou um fórum e, posteriormente, um blog para outras pessoas compartilharem os desenhos feitos sobre suas cidades, mas apenas cenas captadas in loco. Nada de fotos ou paisagens buscadas na memória. 
O objetivo, resumido na ‘missão’ do grupo, é enaltecer os valores ‘artístico, narrativo e educativo do desenho local’. Em 2010, em entrevista ao jornal El País, Campanario falou sobre seu trabalho e, de alguma forma, sobre o que o fez criar o Urban Sketchers:

‘Antigamente os desenhistas iam cobrir acontecimentos (...) Eu tento recuperar essa tradição. Vivemos rodeados de tantas máquinas que nos esquecemos do valor que tem o registro rápido, que é uma visão pessoal que chega e é interessante e única’. 

Pelo mundo
De acordo com o site, há mais de 3,4 mil desenhistas registrados na plataforma. São pessoas de diversos lugares do mundo que se reúnem uma vez ao ano em uma cidade para desenharem juntos. 
O próximo encontro, que deve acontecer em meados de julho, será na cidade de Porto, em Portugal. O Brasil já recebeu uma dessas reuniões em 2014, na cidade de Paraty, no Rio de Janeiro. 

Por aqui, os urban sketchers – ou ‘croquizeiros urbanos’ – se organizam em mais de uma dezena de regionais, entre elas estão as de Florianópolis, Aracaju, Goiânia, Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro. 

Sobre a capital carioca, a antropóloga Karina Kuschnir falou em uma publicação recente no blog dos Instituto Moreira Salles sobre a sua tentativa de se tornar uma urban sketcher local. Tentativa frustrada pela sua desilusão com a cidade. 

Ela criticou desenhos feitos por urban sketchers de uma ‘cidade idealizada’, pouco fiéis à sua realidade. Nesse sentido, indicou trabalhos ‘de enfoque jornalístico-antropológico-documental’ como o que retrata os efeitos de um terremoto na pequena ilha italiana de Ísquia, outro que mostra os estragos causados pelo Furacão Maria em Porto Rico, ou ainda o que retrata um ritual religioso em Singapura.

Os desenhos produzidos por urban sketchers podem ser encontrados no site oficial, nos blogs regionais e nas respectivas páginas em redes sociais como Facebook e Instagram.

Abaixo, alguns exemplos produzidos por urban sketchers brasileiros:

Prédio em Aracaju (SE), feito por Agripino Costa Neto



Praça de Joinville, retratada por Simon Taylor

Vista para o Solar do Unhão, em Salvador; por Domingos Linheiro



Esquina na cidade de São Carlos (SP), por Flávio Ricardo





Croqui da Avenida Paulista, na capital paulista; por Yorik van Havre









Texto: Murilo Roncolato    |   =Nexo

(JA, Jun18)                                                                                                          

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