Vista do Arpoador no Rio de Janeiro, por Eliane Lopes |
Regra número
1: nós desenhamos no local, em ambiente interno ou externo, capturando o que
vemos por observação direta. Regra número 2: nossos desenhos contam histórias
do nosso entorno, dos lugares em que vivemos e por onde viajamos. Regra número
3: nossos desenhos são um registro do tempo e do lugar.
Outras
regras falam sobre como os desenhos devem ser fiéis à cena, como seus membros
se ajudam e desenham juntos, ou ainda como todo desenho deve ser publicado
on-line. ‘Nós mostramos o mundo, um desenho por vez’ fecha a lista.
Essas são
algumas das condições para se fazer parte da comunidade internacional de urban sketchers, artistas por formação ou autodidatas que retratam
cenas ao vivo do mundo à sua volta por meio de desenhos rápidos ou croquis.
O grupo
nasceu em 2007 pelas mãos do jornalista espanhol Gabriel Campanario, conhecido
por ilustrar todo texto seu publicado no jornal americano The Seattle Times com
um desenho.
Na época,
Campanario criou um fórum e, posteriormente, um blog para outras pessoas
compartilharem os desenhos feitos sobre suas cidades, mas apenas cenas captadas
in loco. Nada de fotos ou paisagens buscadas na memória.
O objetivo,
resumido na ‘missão’ do grupo, é enaltecer os valores ‘artístico, narrativo e
educativo do desenho local’. Em 2010, em entrevista ao jornal El País,
Campanario falou sobre seu trabalho e, de alguma forma, sobre o que o fez criar
o Urban Sketchers:
‘Antigamente os desenhistas iam cobrir acontecimentos (...) Eu
tento recuperar essa tradição. Vivemos rodeados de tantas máquinas que nos
esquecemos do valor que tem o registro rápido, que é uma visão pessoal que
chega e é interessante e única’.
Pelo mundo
De acordo
com o site, há mais de 3,4 mil desenhistas registrados na plataforma. São
pessoas de diversos lugares do mundo que se reúnem uma vez ao ano em uma cidade
para desenharem juntos.
O próximo
encontro, que deve acontecer em meados de julho, será na cidade de Porto, em
Portugal. O Brasil já recebeu uma dessas reuniões em 2014, na cidade de Paraty,
no Rio de Janeiro.
Por aqui, os
urban
sketchers – ou ‘croquizeiros urbanos’ –
se organizam em mais de uma dezena de regionais, entre elas estão as de
Florianópolis, Aracaju, Goiânia, Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro.
Sobre a
capital carioca, a antropóloga Karina Kuschnir falou em uma publicação recente
no blog dos Instituto Moreira Salles sobre a sua tentativa de se tornar uma urban sketcher local. Tentativa frustrada pela sua desilusão com a
cidade.
Ela criticou
desenhos feitos por urban sketchers de uma ‘cidade
idealizada’, pouco fiéis à sua realidade. Nesse sentido, indicou trabalhos ‘de
enfoque jornalístico-antropológico-documental’ como o que retrata os efeitos de
um terremoto na pequena ilha italiana de Ísquia, outro que mostra os estragos
causados pelo Furacão Maria em Porto Rico, ou ainda o que retrata um ritual
religioso em Singapura.
Os desenhos
produzidos por urban sketchers podem ser
encontrados no site oficial, nos blogs regionais e nas respectivas páginas em
redes sociais como Facebook e Instagram.
Abaixo, alguns exemplos produzidos por urban sketchers brasileiros:
Prédio em Aracaju (SE), feito por
Agripino Costa Neto
|
Praça de Joinville, retratada por Simon Taylor |
Vista para o Solar do Unhão, em Salvador; por Domingos Linheiro |
Esquina na cidade de São Carlos (SP), por Flávio Ricardo |
Croqui da Avenida Paulista, na capital paulista; por Yorik van Havre |
Texto: Murilo Roncolato |
=Nexo
(JA, Jun18)
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