Autorretrato de Elliott Erwitt na França |
As reproduções de telas do jogo de celular, no qual criaturinhas japonesas são caçadas virtualmente em lugares públicos, fazem parte da exposição ‘Players – Os Fotógrafos da Magnum Entram no Jogo’, que explora o lado divertido da lendária agência fundada por Capa e Henri Cartier-Bresson há mais de 70 anos.
Conhecida por registros de eventos históricos, principalmente guerras e pautas sociais, a Magnum revela agora, no Espacio Telefônica, em Madri, uma parte de seu arquivo centrada no lazer, na descontração e em cenas que escorrem sarcasmo. Junto às reproduções de telas, por exemplo, Dworzak documentou os caçadores de Pokémon em ação. Ali, os retratados aparecem como se fossem zumbis, com as cabeças sincronizadamente inclinadas para ver seus telefones.
Jogadores de Pokémon Go! em Paris, na França |
As quase 200
fotografias de 46 autores foram selecionadas por Cristina de Middel, que
recebeu carta branca do festival PhotoEspaña para realizar a escolha de artistas
e curadores de cinco mostras durante o evento realizado a partir desta quarta
(6) a 26 de agosto. Ela é a segunda fotógrafa espanhola indicada a integrar a
Magnum, mas, diferentemente da primeira, Cristina García Rodero, que possui o
status de membro permanente, De Middel está em período de aprovação –a
exposição em Madri faz parte desse processo. Quem divide a organização da
mostra é o britânico Martin Parr, ex-presidente da cooperativa e conhecido por
fotos sobre consumo em massa.
‘Estou em
fase de descobrimento’, explica a autora de fotolivros celebrados, como ‘The
Afronauts’ e ‘Party’. 'Descobri diversos nomes da Magnum que não conhecia,
afinal são mais de 90 fotógrafos. E, desde que fui nomeada, tudo que faço tem
mais transcendência, ao mesmo tempo que sinto uma pressão sem igual em minha
carreira'.
Foto do italiano Paolo Pellegrin de atleta olímpico |
De Middel
conta que, quando sugeriu a exposição a Parr, o britâncio associou a palavra ‘players’
literalmente a esportes, embora o significado do termo seja mais amplo. Há, é
verdade, muitas cenas esportivas na mostra, como uma série de atletas em
contra-luz realizada pelo italiano Paolo Pellegrin ou capturas de telas de TV
da Olimpíada de Munique feitas por Harry Gruyaert –o que comprova a diversidade
estética da Magnum–, mas a exposição se desdobra em outros universos.
É possível
encontrar fotos dos jazzistas Charles Mingus, Birdland e John Coltrane pelo
francês Guy Le Querrec, close-ups de membros de bandas de black metal pelo
norueguês Jonas Bendiksen e cenas tomadas por Elliott Erwitt, a personificação
da fotografia feita para rir. Erwitt, no entanto, não é fotógrafo de
gargalhadas. É fotógrafo da risada de canto de boca, de cenas tão ridículas que
só resta rir. O autorretrato que fez com a cabeça de um gorila está na entrada
da exposição, em tamanho gigante. Dali se alternam imagens, grandes e pequenas,
de diferentes tipos de impressão, e também vídeos, ‘sem uma narrativa que os uma’,
diz De Middel, porque a ideia é que o espectador seja jogado no espaço como se
fosse uma bola de uma máquina de pinball.
Membro de banda norueguesa de black metal em foto de Jonas Bendiksen |
A fotografia
mais clássica do acervo da Magnum sobre diversão, contudo, não está na mostra.
O retrato feito por Cartier-Bresson, de um menino sorridente desfilando pelas
ruas de Paris com garrafas quase maiores que ele, teve de ficar de fora da
exposição. Uma série de condições técnicas para exibir as imagens do fundador
da agência faria com que as impressões ficassem caríssimas.
Há ainda um
eixo da exposição que, de alguma forma, junta guerra e diversão. Peter van
Agtmael, fotógrafo americano de 37 anos, por exemplo, exibe uma registro de
aparente normalidade. Um pai brinca com os dois filhos com sabres de luz e
máscara da saga Star Wars. O homem, porém, tem uma perna mecânica, pois é
veterano da Guerra no Iraque. Já Moises Saman fotografou um apoiador de Muammar
Gaddafi com um retrato do ex-ditador líbio, enquanto fogos de artifício
explodem em segundo plano. Embora a celebração tenha sido encenada para
jornalistas, a imagem parece Gaddafi fungindo de ataques –algo que viria a
ocorrer.
Apoaiador de Gaddafi segura retrato do ex-ditador líbio. Foto de Moises Saman |
A cena foi
documentada em 2011. Desde então, a situação política mundial parece tão ou
mais intensa do que na época da Primavera Árabe. Se a polêmica em torno da
eleição de Trump nos EUA, a deterioração da crise da imigração, as discussões
comportamentais sobre gêneros e até a troca recente no governo espanhol parecem
pautas mais urgentes, De Middel discorda.
‘Relaciono-me com a realidade a
partir do humor. A realidade chegou a um ponto que ou você faz piada ou
tudo será insuportável. A ver se por meio da quebra da lógica encontramos
ideias novas. Nunca vi na fotografia a função de salva-vidas. Se ela tem, não a
quero mais. Que cada um encontre a linguagem que mais agrada e assim esteja
tudo bem’.
Festival PhotoEspaña
Onde: Espacio Telefônica, em Madri
Até 26 de
agosto
***
Texto: Daigo Oliva, jornalista que viajou
a convite do festival PhotoEspaña
| FSP
(JA, Jun18)
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