Há 500 anos,
Leonardo da Vinci morreu em castelo que hoje abriga um museu dedicado a ele
Castelo de Amboise, antiga residência dos reis franceses, visto da margem oposta do Loire |
Em 1515 Leonardo
tinha 63 anos, Michelangelo, 40 e Rafael, 32. Os três viviam em Roma, o único lugar do mundo que
podia comportar tantos gênios e egos. Poderíamos esperar que esses talentos trabalhassem
juntos, mas não foi assim que aconteceu.
Em outubro daquele ano, o rei
francês Francisco I anexou a cidade de Milão.
Dois meses depois, ele se encontrou com o papa Leão X em Bolonha, em
uma ocasião em que Leonardo estava presente. O rei era admirador da obra do
artista, então Leonardo recebeu uma encomenda: criou para Francisco um leão
mecânico, que andava para a frente, abria o peito, e revelava um buquê de
lírios. Alta tecnologia, coisa linda.
Pouco depois, em 1516, Leonardo
já trabalhava oficialmente para o monarca francês. Aceitou o convite, e cruzou
os Alpes em cima de uma mula, levando consigo alguns pupilos, anotações,
rascunhos e três pinturas.
Fachada do Clos Lucé, que mantém um museu dedicado a Da Vinci |
Ele passou a morar no Clos
Lucé, castelo fortificado que um outro rei, Carlos VIII, comprou em
1490
para transformar em uma agradável residência de verão dos monarcas franceses.
O solar tinha uma passagem
subterrânea para o castelo de Amboise, a então residência real. Era o palácio
onde Francisco passou a infância, e onde Carlos morreu de forma estúpida, ao
bater a cabeça no lintel de uma porta (lintel
é a parte dura, horizontal e superior de portas e janelas).
Nada mal para o velho
artista. Salário fixo, casa suntuosa e vizinho de Francisco, que ainda o nomeou
‘primeiro pintor, engenheiro e arquiteto do rei’.
Leonardo trabalhou em
diversos projetos para Francisco, que foi um dos grandes monarcas de seu tempo.
Fez estudos para a drenagem dos pântanos de Solonha e para uma rede de lagos e
canais, conectando o Vale do Loire a Lyon, a fim de facilitar o acesso à
Itália. Idealizou a cidade de Romorantin, novo distrito aristocrático que
abrigaria a corte, e casas móveis para a nobreza itinerante.
Criou também
outros autômatos, na mesma linha do leão florista, para as espetaculares
celebrações reais. Foram anos mais de engenheiro do que de pintor. Mas, Leonardo também teve tempo para receber
visitas ilustres do reino, líderes da Igreja, embaixadores italianos, e outros artistas.
Trabalhava no térreo do edifício, e trabalhava demais. ‘A sopa está esfriando’,
como deixou em uma de suas notas, preservadas até hoje.
No dia 2 de maio de 1519, há 500 anos,
Leonardo morreu, provavelmente de derrame. Ele estava no Clos Lucé, a casa onde
viveu os últimos três de seus 67 anos de vida, e que hoje abriga um museu dedicado a
Da Vinci. Francisco chorou com a cabeça do amigo entre as mãos, embora essa
seja a versão enfeitada, famosa na pintura de Ingres. Mas, dada a relação dos
dois, sabemos que ele sentiu a partida do gênio. Leonardo foi enterrado na igreja de São
Florentim, no castelo de Amboise.
Quase três séculos depois,
com os tempos áureos do palácio já na poeira da história, a dinastia Valois
dera lugar à Bourbon, que, por sua vez, caiu na Revolução. A igreja foi destruída,
e os ossos do gênio se perderam.
Capela de Saint-Hubert |
Em 1863, a suposta
ossada davinciana foi descoberta. Leonardo ganhou uma nova tumba, na capela de
São Humberto, ali perto, nos jardins do castelo de Amboise.
A cidade de Amboise vista do castelo |
Amboise, cidade histórica na
margem esquerda do Loire, celebra meio milênio da morte de seu imigrante mais
famoso. Paris também. As três pinturas que Leonardo levou em sua mudança para a
França acabaram ficando no país. Hoje, elas integram o acervo do Louvre: A
Virgem e o Menino com Santa Ana, São João Batista (que talvez nem estivesse finalizada), e Mona Lisa.
Fonte: Felipe van Deursen |
Terra à Vista
(JA, Mai20)
Nenhum comentário:
Postar um comentário