segunda-feira, 11 de maio de 2020

Castelo de Clos Lucé Amboise, Centro-Vale do Loire, França



Há 500 anos, Leonardo da Vinci morreu em castelo que hoje abriga um museu dedicado a ele

Castelo de Amboise, antiga residência dos reis franceses, visto da margem oposta do Loire


Em 1515 Leonardo tinha 63 anos, Michelangelo, 40 e Rafael, 32. Os três viviam em Roma, o único lugar do mundo que podia comportar tantos gênios e egos. Poderíamos esperar que esses talentos trabalhassem juntos, mas não foi assim que aconteceu.

Em outubro daquele ano, o rei francês Francisco I anexou a cidade de Milão.   Dois meses depois, ele se encontrou com o papa Leão X em Bolonha, em uma ocasião em que Leonardo estava presente. O rei era admirador da obra do artista, então Leonardo recebeu uma encomenda: criou para Francisco um leão mecânico, que andava para a frente, abria o peito, e revelava um buquê de lírios. Alta tecnologia, coisa linda.

Pouco depois, em 1516, Leonardo já trabalhava oficialmente para o monarca francês. Aceitou o convite, e cruzou os Alpes em cima de uma mula, levando consigo alguns pupilos, anotações, rascunhos e três pinturas.


Fachada do Clos Lucé, que mantém um museu dedicado a Da Vinci

Ele passou a morar no Clos Lucé, castelo fortificado que um outro rei, Carlos VIII, comprou em 1490 para transformar em uma agradável residência de verão dos monarcas franceses.

O solar tinha uma passagem subterrânea para o castelo de Amboise, a então residência real. Era o palácio onde Francisco passou a infância, e onde Carlos morreu de forma estúpida, ao bater a cabeça no lintel de uma porta (lintel é a parte dura, horizontal e superior de portas e janelas).

Nada mal para o velho artista. Salário fixo, casa suntuosa e vizinho de Francisco, que ainda o nomeou ‘primeiro pintor, engenheiro e arquiteto do rei’.

Leonardo trabalhou em diversos projetos para Francisco, que foi um dos grandes monarcas de seu tempo. Fez estudos para a drenagem dos pântanos de Solonha e para uma rede de lagos e canais, conectando o Vale do Loire a Lyon, a fim de facilitar o acesso à Itália. Idealizou a cidade de Romorantin, novo distrito aristocrático que abrigaria a corte, e casas móveis para a nobreza itinerante. 

Criou também outros autômatos, na mesma linha do leão florista, para as espetaculares celebrações reais. Foram anos mais de engenheiro do que de pintor.  Mas, Leonardo também teve tempo para receber visitas ilustres do reino, líderes da Igreja, embaixadores italianos, e outros artistas. Trabalhava no térreo do edifício, e trabalhava demais. ‘A sopa está esfriando’, como deixou em uma de suas notas, preservadas até hoje.

No dia 2 de maio de 1519, há 500 anos, Leonardo morreu, provavelmente de derrame. Ele estava no Clos Lucé, a casa onde viveu os últimos três de seus 67 anos de vida, e que hoje abriga um museu dedicado a Da Vinci. Francisco chorou com a cabeça do amigo entre as mãos, embora essa seja a versão enfeitada, famosa na pintura de Ingres. Mas, dada a relação dos dois, sabemos que ele sentiu a partida do gênio.   Leonardo foi enterrado na igreja de São Florentim, no castelo de Amboise.

Quase três séculos depois, com os tempos áureos do palácio já na poeira da história, a dinastia Valois dera lugar à Bourbon, que, por sua vez, caiu na Revolução. A igreja foi destruída, e os ossos do gênio se perderam.


Capela de Saint-Hubert


Em 1863, a suposta ossada davinciana foi descoberta. Leonardo ganhou uma nova tumba, na capela de São Humberto, ali perto, nos jardins do castelo de Amboise.


A cidade de Amboise vista do castelo

Amboise, cidade histórica na margem esquerda do Loire, celebra meio milênio da morte de seu imigrante mais famoso. Paris também. As três pinturas que Leonardo levou em sua mudança para a França acabaram ficando no país. Hoje, elas integram o acervo do Louvre: A Virgem e o Menino com Santa Ana, São João Batista (que talvez nem estivesse finalizada), e Mona Lisa.



Fonte: Felipe van Deursen  |  Terra à Vista



(JA, Mai20)




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