Uma alentada retrospectiva prova que o
brasileiro foi não só uma figuraça carismática — mas, sobretudo, um artista
essencial de sua geração
Com curadoria de Daniel
Rangel, ‘My Name Is — Ivald Granato — Eu Sou’ é a primeira exposição após a
morte do artista plástico fluminense, em 2016, aos 66 anos.
A mostra apresenta o artista
em uma visão multi-perspectiva, destacando sua expressão pessoal e como ela se
reflete em suas telas, sua forma de se relacionar com o mundo e a ligação
direta de seus traços marcantes, as cores vivas e a gestualidade presentes em
suas obras. Com 5 décadas de trabalho ininterrupto, Granato desenvolveu
uma produção extensa, experimentando diversas técnicas e procedimentos, sendo
inclusive um dos pioneiros da arte performance no Brasil.
Além de trazer uma seleção de
suas pinturas, objetos, desenhos e cadernos de artista, com o uso de recursos
multimídias, a exposição pretende abarcar sua produção, incessante e
multifacetada, sua personalidade cativante e agregadora, e a atmosfera de
efervescente experimentação de seu ateliê na Zona Oeste de São Paulo.
O artista multimídia Tadeu
Jungle concebe um espaço digital, acessível com o uso de óculos de realidade
virtual, em que o público pode navegar para visualizar mais obras de Ivald
Granato - ampliando o acervo presente no Espaço Expositivo da unidade. Nas
telas espalhadas pela expografia, estarão também depoimentos e entrevistas em vídeo
de artistas e amigos que conviveram com Granato.
No documentário ‘Olé Olé Olé!’,
os Rolling Stones fazem um registro soltinho da turnê e das andanças da banda
pela América Latina em 2016. Ao lado dos roqueiros ingleses, brilha um astro
nacional: o artista plástico Ivald Granato.
Amigo de longa data de Keith
Richards e Ronnie Wood, ganhou uma homenagem comovente. No meio do filme, surge
com Wood no Beco do Batman, ponto turístico onde os grafites de rua são a
atração principal, em São Paulo. Granato morreu alguns meses antes do
lançamento.
Os dois também pintaram no
ateliê do artista. A nota surpreendente: ‘Ivald não falava nada de inglês, só I
love you’, brinca o guitarrista dos Stones, e dublê de pintor. Mas esse é o
menor dos problemas: Granato interage com o gringo com a urgência encantadora
de um xamã das artes. ‘Ali estavam um roqueiro que queria ser pintor e um
pintor que queria ser roqueiro. Eles se entendiam’, diz a jornalista Alice
Granato, filha do brasileiro.
A relação calorosa com os
Stones, movida a arte e rock’n’roll, é
um resumo da figuraça retratada na mostra.
A mostra é a primeira
retrospectiva de Granato desde sua saída de cena — ele sofreu uma parada
cardíaca enquanto dormia, em julho de 2016 — abarca todas as facetas do artista eclético e
febril nascido em Campos dos Goytacazes, no interior fluminense, e que reinaria
na louca cena artística paulistana dos anos 70 e 80.
O acervo de 500 itens inclui
cadernos, desenhos, memorabilia, vídeos e fotos das performances que o
tornariam célebre — como A Safada de Copacabana, em que ele se vestia de mulher
para distribuir dinheiro falso na praia carioca, e Mitos Vadios, quando se uniu
a outros artistas para denunciar o marasmo da Bienal paulistana.
Granato é, merecidamente,
saudado como uma personificação brasileira da performance, forma de expressão
tão típica da contracultura. Mas a mostra amplia a visão sobre sua arte: do fim
dos anos 60 aos meses antes de morrer, o que unifica sua produção é a pintura.
Como se pode ver em quadros ao vivo e nas galerias virtuais em que o espectador
mergulhará com óculos 3D, Granato passeou da arte pop à abstração com notável
coerência. Qualquer tentativa de criar cordões de isolamento entre as mil e uma
atividades do artista seria errônea. ‘Na performance ou na pintura, ele é uma
coisa só: há influência pop, cores e formas vibrantes — e, principalmente,
movimento’, diz o curador Daniel Rangel.
Movimento é o que não faltava
em sua vida pessoal. Ser quase monoglota não impediu Granato de frequentar as
festas mais quentes de seu tempo, inclusive no exterior — onde foi amigo de
baladeiros como a princesa alemã Gloria von Thurn e Taxis. As duas casas-ateliê
que teve em São Paulo reuniam do tropicalista Gilberto Gil aos Titãs.
E havia,
claro, os Stones. Ele os conheceu nos anos 80
e ficou tão íntimo que passou um período
na residência de Keith Richards em Nova York. Pintar e bordar era com ele mesmo.
My
Name Is Ivald Granato
Sesc Belenzinho - Rua Padre Adelino, 1.000, Belenzinho
SAO PAULO | CEP: 03303-000, Espaço Expositivo e Átrio
De 10 de outubro à 26 de janeiro de 2020. Terça a
sábado, das 10h às 21h; domingos e feriados, das 10h às 19h30.
Fonte: Marcelo Marthe, Rev. Veja |
SESC
(JA, Out19)
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