sexta-feira, 11 de outubro de 2019

My Name Is Ivald Granato – Eu Sou



Uma alentada retrospectiva prova que o brasileiro foi não só uma figuraça carismática — mas, sobretudo, um artista essencial de sua geração



Com curadoria de Daniel Rangel, ‘My Name Is — Ivald Granato — Eu Sou’ é a primeira exposição após a morte do artista plástico fluminense, em 2016, aos 66 anos.

A mostra apresenta o artista em uma visão multi-perspectiva, destacando sua expressão pessoal e como ela se reflete em suas telas, sua forma de se relacionar com o mundo e a ligação direta de seus traços marcantes, as cores vivas e a gestualidade presentes em suas obras. Com 5 décadas de trabalho ininterrupto, Granato desenvolveu uma produção extensa, experimentando diversas técnicas e procedimentos, sendo inclusive um dos pioneiros da arte performance no Brasil.

Além de trazer uma seleção de suas pinturas, objetos, desenhos e cadernos de artista, com o uso de recursos multimídias, a exposição pretende abarcar sua produção, incessante e multifacetada, sua personalidade cativante e agregadora, e a atmosfera de efervescente experimentação de seu ateliê na Zona Oeste de São Paulo.

O artista multimídia Tadeu Jungle concebe um espaço digital, acessível com o uso de óculos de realidade virtual, em que o público pode navegar para visualizar mais obras de Ivald Granato - ampliando o acervo presente no Espaço Expositivo da unidade. Nas telas espalhadas pela expografia, estarão também depoimentos e entrevistas em vídeo de artistas e amigos que conviveram com Granato.




No documentário ‘Olé Olé Olé!’, os Rolling Stones fazem um registro soltinho da turnê e das andanças da banda pela América Latina em 2016. Ao lado dos roqueiros ingleses, brilha um astro nacional: o artista plástico Ivald Granato.

Amigo de longa data de Keith Richards e Ronnie Wood, ganhou uma homenagem comovente. No meio do filme, surge com Wood no Beco do Batman, ponto turístico onde os grafites de rua são a atração principal, em São Paulo. Granato morreu alguns meses antes do lançamento.

Os dois também pintaram no ateliê do artista. A nota surpreendente: ‘Ivald não falava nada de inglês, só I love you’, brinca o guitarrista dos Stones, e dublê de pintor. Mas esse é o menor dos problemas: Granato interage com o gringo com a urgência encantadora de um xamã das artes. ‘Ali estavam um roqueiro que queria ser pintor e um pintor que queria ser roqueiro. Eles se entendiam’, diz a jornalista Alice Granato, filha do brasileiro.

A relação calorosa com os Stones, movida a arte e rock’n’roll, é um resumo da figuraça retratada na mostra.

A mostra é a primeira retrospectiva de Granato desde sua saída de cena — ele sofreu uma parada cardíaca enquanto dormia, em julho de 2016 — abarca todas as facetas do artista eclético e febril nascido em Campos dos Goytacazes, no interior fluminense, e que reinaria na louca cena artística paulistana dos anos 70 e 80.

O acervo de 500 itens inclui cadernos, desenhos, memorabilia, vídeos e fotos das performances que o tornariam célebre — como A Safada de Copacabana, em que ele se vestia de mulher para distribuir dinheiro falso na praia carioca, e Mitos Vadios, quando se uniu a outros artistas para denunciar o marasmo da Bienal paulistana.




Granato é, merecidamente, saudado como uma personificação brasileira da performance, forma de expressão tão típica da contracultura. Mas a mostra amplia a visão sobre sua arte: do fim dos anos 60 aos meses antes de morrer, o que unifica sua produção é a pintura. 

Como se pode ver em quadros ao vivo e nas galerias virtuais em que o espectador mergulhará com óculos 3D, Granato passeou da arte pop à abstração com notável coerência. Qualquer tentativa de criar cordões de isolamento entre as mil e uma atividades do artista seria errônea. ‘Na performance ou na pintura, ele é uma coisa só: há influência pop, cores e formas vibrantes — e, principalmente, movimento’, diz o curador Daniel Rangel.

Movimento é o que não faltava em sua vida pessoal. Ser quase monoglota não impediu Granato de frequentar as festas mais quentes de seu tempo, inclusive no exterior — onde foi amigo de baladeiros como a princesa alemã Gloria von Thurn e Taxis. As duas casas­-ateliê que teve em São Paulo reuniam do tropicalista Gilberto Gil aos Titãs. 

E havia, claro, os Stones. Ele os conheceu nos anos 80 e ficou tão íntimo que passou um período na residência de Keith Richards em Nova York. Pintar e bordar era com ele mesmo.




My Name Is Ivald Granato
Sesc Belenzinho - Rua Padre Adelino, 1.000, Belenzinho SAO PAULO | CEP: 03303-000, Espaço Expositivo e Átrio
De 10 de outubro à 26 de janeiro de 2020. Terça a sábado, das 10h às 21h; domingos e feriados, das 10h às 19h30.







Fonte: Marcelo Marthe, Rev. Veja   |  SESC




(JA, Out19)



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