O Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia (MuBE)
exibe desde o dia 15 de dezembro de 2018, a mostra ’Burle Marx: arte, paisagem
e botânica’, com curadoria de Cauê Alves. Natureza, arte e arquitetura
convergem na obra de Roberto Burle Marx, homenageado na exposição que permanece
em cartaz até 17 de março de 2019.
O artista transpunha com destreza a linguagem
pictórica ao paisagismo, contrapondo formas orgânicas abstratas à rígida
geometria da arquitetura. Não à toa, tornou-se um dos maiores paisagistas do
século XX, somando ainda, os adjetivos de arquiteto, pintor, escultor,
designer, botânico, ecologista e ativista pelas causas ambientais. A entrada na
exposição é livre e gratuita.
Roberto Burle Marx, Mangue azul, 1963 |
A exposição é dividida em três núcleos, já enunciadas
em seu título, evidenciando a faceta polivalente do artista. No total, são
cerca de 70 trabalhos, entre desenhos, pinturas, esculturas, tapeçarias, peças
de design, projetos paisagísticos e registros de espécies botânicas e de
expedições científicas que realizou ao longo da vida
.
‘Queremos chamar a atenção para os mais diversos
atributos de Burle Marx, mas sem um tom de retrospectiva. Ao contrário,
trazemos ao público singularidades pouco exploradas de um artista de múltiplas
capacidades. Sem dúvida alguma, o paisagismo foi sua grande contribuição para o
mundo, mas ele foi muito mais do que um grande paisagista’, pontua Alves.
No núcleo ‘Arte’, destaque para as telas que vão do
realismo figurativo, como é o caso de uma natureza morta Sem título (s/d), à
abstração informal, tal qual o óleo sobre tela Mangue azul (1963). Em outros
suportes, Sem título (1984), uma pintura sobre o tecido de uma toalha de mesa,
e Sem título (1965), tapeçaria de lã.
Autor de centenas de projetos paisagísticos no Brasil
e no mundo, Burle Marx se valeu de plantas, construções, relevos, painéis de
azulejos e de mosaicos de tradição portuguesa. À essa produção se volta o
núcleo "Paisagem". Entre os trabalhos aqui apresentados, duas plantas
do projeto criado para o Terraço Itália, no centro de São Paulo. Hoje já
descaracterizado, o projeto do restaurante instalado na cobertura do icônico
Edifício Itália foi fruto de uma parceria entre o paisagista e o arquiteto
Paulo Mendes da Rocha.
Roberto Burle Marx, Sem Título, s/d |
Devido a sua fama, Roberto Burle Marx foi inúmeras
vezes convidado por nomes da elite brasileira para projetar jardins de suas
residências. Foi o caso, por exemplo, de Ema Klabin, figura emblemática do
mundo das artes, mecenas e colecionadora. O jardim de sua casa, hoje sede da
fundação cultural que leva seu nome, foi uma das criações do paisagista.
Situada exatamente à frente do MuBE, o espaço funcionará como uma extensão da
exposição.
O grande destaque da seção ficará por conta da
remontagem provisória em vinil do monumental mosaico de pedras desenhado pelo
artista no primeiro estudo para o jardim do MuBE. É dele o projeto paisagístico
do espaço externo que circunda a também construção modernista de Paulo Mendes
da Rocha. A composição do jardim foi elaborada a partir da relação com a cidade
e da humanização do urbanismo. Na mostra, o projeto, jamais executado em sua
totalidade, será apresentado temporariamente, em tamanho real, ocupando toda a
área externa do museu durante o período da exposição.
‘Paulo Mendes da Rocha e Burle Marx, a quem coube a
questão da ecologia do MuBE, idealizaram um museu integrado com o bairro, que
já é um jardim, o Jardim Europa. Ele integra o projeto justamente com a ideia
de dar conta desse aspecto que está na origem da instituição. Cidade e natureza
estão em diálogo constante em sua obra’, comenta o curador.
Filho de pai alemão e mãe pernambucana com
descendência francesa, Burle Marx começou a colecionar plantas na infância, com
sete anos de idade. Formou-se em artes plásticas e arquitetura nos idos de 1933
e, na mesma década, descobriu a flora brasileira de forma antropófaga, durante
uma viagem a Berlim.
Roberto Burle Marx, Mata Atlântica, 1991 |
Ao longo de sua vida, descobriu cerca de 35 espécies
de plantas em suas famigeradas expedições Brasil adentro. O núcleo ‘Botânica’
reúne os registros destas viagens e traz ao público desenhos, exsicatas e
fotografias assinados pelo artista e também trabalhos de contemporâneos
influenciados por sua obra, como a britânica Margaret Mee, que se especializou
em plantas da Amazônia, e o brasileiro Caio Reisewitz, que retrata o jardim
berlinense que despertou no paisagista o olhar apurado para a flora tropical.
Nesse sentido, o curador chama atenção para a íntima
relação que Burle Marx nutriu com o meio ambiente. ‘Ele é um personagem que tem
uma relação muito forte com o campo da ciência. Foi militante pelas causas
ambientais quando esta não era ainda uma pauta da sociedade brasileira’,
recorda.
Entre os embates que abraçou, uma ferrenha e crítica
oposição à derrubada de árvores para a construção de estradas pelo país nos
anos 1970, quando a ação era, inclusive, propagandeada pelo Governo Federal.
‘Neste setor cometem-se erros diários. Por diversas
vezes naturalistas alertaram contra o fato de se fazer propaganda de grandes
obras públicas, como a abertura de estradas (...) Mostram isso como um símbolo
de vitória da tecnologia sobre a natureza. (...) Ninguém é contra a derrubada
necessária de uma árvore para abrir estrada. O que não se pode aceitar é a
propaganda disso com a chancela do próprio chefe da Nação. Esse é um erro
tremendo’, afirmou Burle Marx em 4 de agosto de 1973, em uma entrevista do O
Estado de São Paulo, referindo-se a um vídeo que registrava a derrubada de uma
árvore para a construção da rodovia Perimetral Norte, no Rio de Janeiro, ação
presenciada pelo então presidente da república e veiculada em programas
televisivos e até mesmo no cinema.
Roberto Burle Marx, sem título, 1993 |
Sobre o MuBE
O MuBE, Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia, foi
criado em 1986, a partir da concessão do terreno na Av. Europa pela Prefeitura
de São Paulo. Surgiu de um movimento de milhares de cidadãos a favor da
preservação da qualidade de vida e do verde em uma das regiões mais valorizadas
da cidade de São Paulo. Para a construção do prédio do Museu foi realizado um
concurso que contou com a participação de vários arquitetos de renome e foi
vencido por Paulo Mendes da Rocha, que convidou Roberto Burle Marx para realizar
projeto paisagístico.
O MuBE é uma das mais importantes construções
brutalistas do mundo, uma das principais obras de Paulo Mendes da Rocha, grande
nome da arquitetura brasileira e mundial, vencedor do prêmio Pritzker em 2006,
considerado o Oscar da arquitetura mundial, e do Leão de Ouro da Bienal de
Arquitetura de Veneza, entre outros. Uma maquete do prédio do museu e seu
projeto fazem parte hoje do acervo do MoMA de Nova York.
Roberto Burle Marx, desenho da série Pithecolobium |
Exposição: ‘Burle Marx: arte, paisagem e botânica’
Curadoria:
Cauê Alves.
Local:
MuBe - Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia | Rua Alemanha, 221 - Jardim
Europa, São Paulo.
Datas e
horários: Abertura dia 15 de dezembro de 2018, sábado, das 10h às 18h. Em
cartaz até 17 de março de 2019. De terça-feira a domingo, das 10h às 18h.
Entrada
livre e gratuita.
Parque Burle Marx, São Paulo-SP |
Fonte: InfoArt SP
(JA, Jan19)
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