“Até dezembro,
4 mil alunos da rede estadual de São Paulo e seus familiares devem participar
de visitas educativas
‘Tudo aqui foi
criado antigamente?’, questiona uma aluna ao passar pelo saguão do Museu Afro
Brasil, localizado dentro do Parque do Ibirapuera, em São Paulo (SP). Com
olhares atentos e inúmeros registros fotográficos, a aula daquela manhã seria
diferente para um grupo de estudantes da Escola Estadual Lauro Gomes de
Almeida, de São Bernardo do Campo (SP). Para aprender diferentes aspectos da
cultura africana e afro-brasileira, as turmas de oitavos e nonos anos do ensino
fundamental trocaram a sala de aula por uma visita aos 11 mil m² de acervo
local.
Com o objetivo
de aliar cultura e educação, a visita faz parte do projeto ‘“Conexões
Culturais: museu, comunidade e escola’, que até dezembro pretende levar 4 mil
estudantes da rede estadual de São Paulo e seus familiares a quatro museus
localizados na capital paulista. Promovida pela Associação Parceiros da
Educação, com apoio da Tomara Educação e Cultura, a iniciativa envolve turmas
de anos finais do ensino fundamental e ensino médio de 20 escolas públicas.
A proposta de
organizar visitas educativas aos museus surgiu a partir de uma pesquisa
realizada com 3.600 alunos de unidades de tempo integral. Questionados sobre o
que poderia ser feito para tornar a escola mais atrativa, eles responderam que
sentiam falta de passeios culturais e atividades fora da escola. ‘Hoje em dia
não é novidade que os alunos querem aulas diversificadas, mas a ideia do
projeto não é promover apenas um passeio cultural. Pensamos em uma forma de
estabelecer conexões com a sala de aula’, explica Fabiana Pasquetto,
coordenadora de projetos da Associação Parceiros da Educação.
Entre os
quatro locais selecionados para as visitas, estão a Pinacoteca do Estado de São
Paulo, o Museu Afro Brasil, o Memorial da Resistência de São Paulo e o Museu da
Imigração do Estado de São Paulo. “Juntamos quatro museus que trazem diferentes
possibilidades de conteúdos e também são atrativos para o público, tanto em
termos estéticos e de patrimônio histórico, quanto em termos de conhecimento de
novos bairros. Não é só o acervo do museu”, reforça Ana Luiza Borges, diretora
da Tomara Educação e Cultura.
Com a ideia de
promover visitas culturais significativas para os alunos, ela conta que foram
elaborados diferentes roteiros que consideram a discussão de temas transversais
relacionados aos PCN’s (Parâmetros Curriculares Nacionais), e ao documento da
última versão da BNCC (Base Nacional Comum Curricular). Para acompanhar as
turmas durante as visitas, o projeto também conta com uma equipe de
arte-educadores que foram formados para reforçar aspectos pedagógicos do
projeto durante o percurso. ‘O ponto principal na minha atuação é deixar claro
a diferença entre o processo de construção do conhecimento dentro de um museu e
dentro da escola. Estamos rodeados de objetos que contam parte da nossa
história, então a ideia também é escutar o que os alunos trazem de uma maneira
muito livre’’, diz a arte-educadora Cintia Masil.
Para os
adolescentes, a visita também faz a diferença na hora de assimilar conteúdos
vistos em sala de aula, como sugere o estudante Guilherme Cardoso, 14, que está
no oitavo ano da Escola Estadual Lauro Gomes de Almeida. ‘Aqui a gente consegue
ver muita coisa sobre a história do nosso país’, conta o menino, que já tinha
visitado o Museu Afro Brasil com o padrinho, mas garante que desta vez aprendeu
coisas novas. ‘A moça educadora explicou cada processo e contou coisas novas
sobre as religiões’, exemplificou.
Os aspectos
culturais e as religiões de matriz africana também foram os pontos da visita
que mais chamaram a atenção da estudante Giovana Boaventura, 14, do oitavo ano.
‘Na sala de aula as coisas são apenas faladas. Quando você está no museu, você
consegue sentir e entender melhor’, compara.
Durante as
visitas, o arte-educador André Leitão avalia que o papel do museu é trazer
elementos para que o aluno possa construir as suas próprias referências. No
percurso do Museu Afro Brasil, por exemplo, ele destaca que o resgate histórico
ajuda a promover uma série de reflexões. ‘O grupo conseguiu compreender que a
cultura negra é a base da cultura brasileira’.
Na avaliação
do professor de português Raimundo Nonato da Silva Filho, que acompanhou o
grupo de estudantes da Grande São Paulo, isso traz novos subsídios para o
trabalho em sala de aula. ‘’O ganho é quase que imensurável. O aluno precisa
sair da sala de aula para entrar em contato com esses espaços que também
ensinam e são legítimos na sua forma de aprender’, diz o educador, que pretende
aproveitar a visita para desenvolver um trabalho de produção de artigos
opinativos com a sua turma do nono ano.
A continuidade
do trabalho em sala de aula também é um dos pilares do projeto, que oferece
roteiros pedagógicos para que os professores trabalhem conteúdos das visitas
dentro das suas disciplinas. Até março do ano que vem, as experiências do
programa ‘Conexões Culturais’ também devem ser sistematizadas em um e-book
gratuito. ‘Qualquer escola do Brasil poderá ter acesso a esse livro e se
inspirar para construir uma boa visita educativa’, afirma a coordenadora de
projetos da Associação Parceiros da Educação.”
Texto e imagens: Marina Lopes
| Porvir
(JA, Nov17)
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