‘Refaçam tudo. Organizem de modo que tudo seja feito novo, para que nossa vida falsa, suja, chata e feia se torne justa, limpa, feliz e linda’, escreveu o poeta russo Alexander Blok, em 1918.
A ideia de ruptura radical -e recomeço- está no âmago da Revolução Russa, um dos eventos definidores do século 20. Nas artes e na cultura aconteceu o mesmo. A ideia de zerar o passado para erguer novos e melhores modelos de indivíduo e sociedade, é central nas vanguardas russas e, em especial, na corrente conhecida como construtivismo.
Iniciada em fevereiro (março, segundo o calendário gregoriano) de 1917 com a troca do regime do czar Nicolau II por um governo socialista provisório, a revolução resultou na ascensão ao poder do grupo bolchevique liderado por Vladimir LEnin em outubro (ou novembro, pela marcação gregoriana). Nesse contexto, diversos artistas russos, incluindo nomes que já tinham projeção no país, como o poeta e escritor Vladimir Maiakóvski e o pintor Kazimir Malevich, aderiram com entusiasmo ao novo regime e a seu projeto de sociedade, enxergando na revolução um paralelo com suas próprias inovações.
‘Estes artistas vão tentar pensar em como a arte pode responder essa demanda de construção de uma nova sociedade’, afirmou a fotógrafa e pesquisadora Clara Figueiredo. Em ensaio que compõe o livro ‘1917, o ano que abalou o mundo’, Figueiredo escreve:
‘Não mais caberia a arte e aos artistas o papel de representar a vida, mas o de atuar nela, de construí-la. Daí a origem do nome construtivismo, que enfatiza a dimensão material da arte, a construção em oposição à composição’.
A partir daí, vieram experimentos radicais de linguagem e forma, a rejeição a expressões consideradas ‘mortas’, como a pintura, e a noção de que artistas deveriam gerar produtos com utilidade social. Um ponto focal dessa movimentação foi a entidade artística Proletkult (de cultura proletária), que reuniu artistas e pessoas ligadas à cultura em todo o país com o objetivo de criar e fomentar linguagens não burguesas, de trabalhadores para trabalhadores.
Abaixo oito trabalhos simbólicos por revolucionar, na forma e no conteúdo, diferentes campos de expressões: arquitetura, cinema, teatro, música, literatura, pintura, design gráfico e fotografia. São trabalhos de artistas que, por vezes, colaboravam e discutiam entre si. E que, em geral, acabaram sendo desprestigiados ou eliminados a partir da década de 1930, sob a visão mais conservadora da era Stálin.
Pintura - Kazimir Malevich, ‘O Quadrado Preto’, 1915
Cinema - Serguei Eisenstein, ‘O Encouraçado Potemkin’, 1925
Literatura - Vladimir Maiakóvski, ‘A Plenos Pulmões’,1929
Design - El Lissitzky, ‘Vença os Brancos com a Cunha Vermelha’, 1919
Arquitetura - Vladimir Tátlin, ‘Torre de Tátlin, 1919
Música - Arseni Avraamov, ‘Sinfonia de Sirenes de Fábrica’, 1922
Fotografia - Alexander Rodchenko, ‘A Escadaria’, 1929
Teatro - Vsévolod Meyerhold, ‘O Corno Magnífico’, 1922
Texto: Camilo Rocha, Guilherme Falcão, Thiago Quadros e Ariel Tonglet | =Nexo Jornal
Imagem: El Lissitzky, ‘Vença os Brancos com a Cunha Vermelha’, 1919
(JA, Out17)
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