Exposição examina a anatomia dos traços
do pioneiro do desenho gráfico no país
Alexandre Wollner rejeitava
ser chamado de moderno. O designer encarnava o espírito da modernidade no seu
sentido iluminista, buscando a razão a partir de um olhar atento aos fenômenos.
Sua viúva, a física Lais
Wollner, lembra que o designer morto no ano passado vivia ‘vendo e fazendo’. ‘Relacionava
estruturas, formas e significados, sempre observando o comportamento da
natureza —o equilíbrio, a harmonia e seu segredo implícito: a estruturação
modulada proporcional’.
O design Alexandre Wollner, em sua casa, em foto de 2013 |
O design Alexandre Wollner,
sentado em uma poltrona em sua casa. Ao fundo, há estantes com livros e
cartazes que ele fez para a Bienal, e para as comemorações dos 400 anos de São
Paulo,
Isso está explícito, por
exemplo, no seu interesse pela sequência de Fibonacci, a sucessão numérica que
representa o padrão de crescimento de elementos na natureza, uma progressão de
números ilustrada como espiral que se expande em ‘proporção áurea’.
A abstração e a matriz
concretista de seus projetos gráficos resultam, portanto, da busca pela
quintessência das formas naturais.
Esta é uma das deduções
possíveis de serem feitas a partir da retrospectiva sobre Wollner, agora no
Museu da Casa Brasileira. Inédita no Brasil, a mostra organizada pelo alemão
Klaus Klemp foi montada há cinco anos em Frankfurt.
Wollner é um personagem
inescapável na história do design no Brasil. Foi pioneiro já nos estudos na
década de 1950 no Instituto de Arte Contemporânea do Masp, uma das primeiras
iniciativas do ensino de desenho industrial no país.
Nesse primeiro momento da
carreira, ele fez os cartazes do 1º Festival Internacional de Cinema do Brasil
e o logotipo da Cinemateca Brasileira, aposentado há pouco pela instituição.
Em 1953, Pietro Maria Bardi,
diretor do Masp, indicou o designer para a Escola Superior de Design em Ulm, na
Alemanha —na verdade, a primeira indicação de Bardi foi Geraldo de Barros, que
não aceitou por estar recém-casado. A mítica instituição estabeleceu um
paradigma, até os dias atuais, de metodologia de ensino de design gráfico e de
objetos utilitários.
Lá, Wollner foi recebido pelo
seu diretor Max Bill, o grande premiado da primeira Bienal de São Paulo, em
1951. Na mostra, há várias fotografias do brasileiro na escola junto a figuras
de peso, como Otl Aicher, Josef Albers, Max Bense e Johannes Itten.
Ao retornar ao Brasil em
1958, Wollner fundou a Forminform, primeiro escritório de design gráfico do
país, em sociedade com Geraldo de Barros, Ruben Martins e Walter Macedo.
É o período em que ele passa
a se dedicar à criação de marcas como a das sardinhas Coqueiro, em 1958, a do
banco Itaú, em 1970, e a da Eucatex, em 1967.
Há décadas pertencentes à
cultura visual das cidades e mercados brasileiros, dezenas desses desenhos
criados por Wollner ocupam o jardim do museu. São apresentados em leves displays
espalhados pelo gramado. Eles trazem, na frente, as marcas impressas e, na
parte de trás, alguns textos com as descrições técnicas dos projetos.
Wollner, aliás, não se atinha
à criação de um logo para a fachada ou rótulo de determinado produto. Ele
desenvolvia a identidade visual a ser aplicada em toda a cultura produtiva de
uma empresa, tanto para usos internos quanto para apresentação pública.
Na exposição, isso fica
evidente nos manuais de implementação que criou para marcas como a Klabin e o
Infoglobo.
Outro momento notável na
carreira de Wollner é a fundação da Escola Superior de Desenho Industrial, no
Rio de Janeiro, em 1963, com o designer Karl Heinz Bergmiller. Eles importaram
de Ulm o modelo de aprendizado.
Na década que passou ligado à
instituição carioca, defendeu a pesquisa utilitária voltada à aplicação em
empresas brasileiras —seu rompimento com a escola se deu quando a engenheira Carmen
Portinho incorporou as artes visuais ao currículo.
Da Alemanha, Wollner trouxe
também um rigor e precisão formal ímpar. Isso e sua erudição ficam patentes nos
depoimentos dados ao designer André Stolarski no documentário ‘Alexandre
Wollner e a Formação do Design Moderno no Brasil’, agora em exibição na mostra.
Na versão paulistana da
exposição, também foram incluídos cartazes —originais e reimpressões— e as
últimas gravuras feitas por Wollner, quando retomou já bem no fim da vida a
atividade de artista.
O diretor técnico do museu,
Giancarlo Latorraca, que trabalhou com Wollner quando o designer integrava o
comitê da instituição, ressalta que o material exposto agora, com peças criadas
pelo designer e itens de seu acervo, é possível ver o processo criativo por
trás de seus maiores trabalhos.
ALEXANDRE WOLLNER
Quando: Ter. a dom.: 10h às 18h. Até 25/8.
Onde: Museu da Casa Brasileira - av. Brig. Faria Lima,
2.705,
Quanto: R$ 10
Mais informações:
tel. (11) 3032-3727
Fonte: Francesco Perrotta-Bosch |
FSP
(JA, Jun19)
Nenhum comentário:
Postar um comentário