Para vender
produtos artesanais, sites de eventos contam histórias de expositores e
oferecem programação de lives
Claudia Kievel (à esq.) e Gladys Tchoport organizam a Feira Jardim Secreto em galpão no centro de SP |
Ainda sem data para acontecer
fisicamente, feiras de produtores de comida, objetos de decoração e peças de
vestuário começam a funcionar na internet. O desafio dos organizadores é
encontrar formas de reproduzir a interação com o público, e pôr a logística de
pé.
No lugar do folheto dos
expositores, que normalmente é entregue no evento físico, o site da Feira
Jardim Secreto traz uma explicação do trabalho de cada produtor —empresários
independentes dos ramos de beleza, moda, papelaria e decoração.
Outro ponto importante para as
sócias Gladys Tchoport, 33, e Claudia Kievel, 31, foi reproduzir a programação
cultural e gastronômica. Na primeira edição virtual, nos dias 15, 16 e 17 de maio,
lives falaram de artesanato brasileiro e crescimento consciente para pequenas
empresas.
‘Nosso portal está 24 horas
disponível para compras. A diferença é que, no fim de semana de evento online,
propomos ações que faziam parte da programação da feira física’, diz Gladys. O
próximo está marcado para 17 e 18 de julho.
Existe potencial para feiras
online crescerem, afirma Rodolpho Ruiz, professor da ESPM. ‘O desafio
é humanizar o processo, já que no evento físico as pessoas pegam o produto na
mão, e têm a interação com o expositor’.
A Feira Jardim Secreto nasceu
em São Paulo em 2013. Tem em média cinco edições por ano, realizadas às
sextas e aos sábados, com público de 10 mil pessoas por dia.
O ecommerce foi criado depois
do início da pandemia. A vantagem do formato, diz Gladys, é que a feira não
precisa limitar o número de expositores, e tem mais facilidade de incluir
produtores de fora de São Paulo.
Mesmo assim, ela afirma que a
operação ainda não paga as contas —as sócias, por exemplo, estão sem
remuneração. Elas esperam que o negócio chegue ao ponto de equilíbrio no
próximo mês.
Outro desafio, segundo ela, é
a comunicação. Hoje, duas funcionárias respondem dúvidas que chegam pelo
Instagram. ‘Antes, a gente tinha mais pedidos para participar da feira, hoje,
temos mais mensagens de clientes’.
Na virtualização, as feiras
têm de passar por uma mudança organizacional e dar conta de novas tarefas, como
produzir conteúdo, fazer trabalho de comunicação, e engajar o cliente de forma
permanente, diz Edson Barbero, coordenador do Centro de Empreendedorismo da
Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap).
Testes e experimentações são
a melhor forma de colocar essas transformações em prática. ‘O empresário deve
se perguntar: qual é o produto minimamente viável? Não espere ter o produto
final. Consumidores querem rapidez’.
José Roberto Giffoni, da Feira Sabor Nacional, em sua casa, no centro de SP |
Foi o que aconteceu com o
empresário José Roberto Giffoni, 54, que teve de desmontar uma edição já
organizada da Feira Sabor Nacional em março, quando foram proibidos eventos
acima de 500 pessoas em São Paulo.
‘Vimos que a gente precisava
se mexer rápido’, diz. A empresa, focada em pequenos produtores de alimentos,
demorou 20 dias para fazer a primeira edição online.
A segunda ocorreu nos dias 18 e 19 de maio, com
uma plataforma que aceitava mais produtores, e uma cozinha industrial como
espaço de apoio para armazenar os produtos.
No fim de semana de feira
virtual, José Roberto e seus sócios recebem os pedidos, buscam os itens nos
produtores, separam as encomendas, e as entregam em até três dias. Por isso, só
nos dias do evento as compras podem ser feitas.
‘Muitos clientes pedem para a
gente fazer todo fim de semana. Mas não dá, é muito trabalho’, diz. A próxima
edição está agendada para os dias 20 e 21 de junho.
‘Embora a resposta seja
positiva, em uma feira online você perde a compra de impulso, não dá ir na
barraca para provar’, diz ele. O faturamento agora chega a 20% do que era
no cenário pré-pandemia.
Cristiane Rosenbaum, da Feira Rosenbaum |
Quando a empresária Cristiane
Rosenbaum, 52, da Feira Rosenbaum, em São Paulo, percebeu que não
seria possível fazer a feira de Dia das Mães, adaptou sua estrutura.
Dois dias antes da data, ela
teve a ideia de pegar os produtos dos expositores que participariam do evento e
apresentá-los em uma transmissão pelo Instagram, como uma vendedora. ‘Tivemos
de nos reinventar para não ficar parados’.
As vendas foram feitas por
site (que já tinha ecommerce), telefone e WhatsApp. O faturamento ficou em 40% do que era
usual antes.
Cristiane pensa em repetir o
formato para outra edição prevista para em agosto. ‘Vi que não tem mais futuro
sem o online junto’, diz.
Assim que a epidemia estiver
controlada, as feiras físicas vão voltar, mas as edições digitais não devem
deixar de existir, diz Edson Barbero, da Fecap. ‘O importante será virtual e
presencial conversarem no posicionamento’.
Pensando nisso, a empresária
Flávia Durante, 43, da Feira Pop Plus, deve fazer um teste de seu evento
em julho. Para ela, o maior desafio é encontrar no online uma proposta que
continue orientando, de forma personalizada, os consumidores de moda plus size.
Fonte: Marília Miragaia |
FSP
(JA, Jun20)
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