Criador da plataforma, que reúne mais de
2000 museus pelo mundo, diz que é preciso
incluir curadores no debate virtual
Amit Sood, diretor da plataforma Google Arts and Culture |
Naquele início, a iniciativa
tinha basicamente duas propostas. Uma delas era permitir aos internautas
percorrer os corredores dos museus sem sair de casa, a partir de uma tecnologia
de geolocalização - nada muito diferente do que é feito no Google Maps.
A outra fazia com que, uma
vez parados diante de uma obra, esses mesmo internautas pudessem se aproximar
da tela de uma forma inviável nos museus de verdade, revelando marcas de pincel
e detalhes imperceptíveis a olho nu.
De lá para cá, no entanto, o
Google Arts
and Culture cresceu, e muito. Em
quantidade de parceiros, é claro - no começo, eles eram menos de 20. Mas,
sobretudo, nos usos.
Hoje, além de explorar
centenas de coleções e visitar exposições virtuais, os internautas ainda têm
acesso a toda uma gama de projetos paralelos. Estes vão de descobrir obras de
arte parecidas com as selfies que
postam, o Art Selfie, a vídeos em que
curadores realizam visitas guiadas com influencers, o Art for Two.
Ao longo de pouco mais de 40 minutos de
entrevista, o diretor do Google Arts and Culture,
Amit
Sood, insiste algumas vezes que ele e sua
equipe não são mais do que técnicos de engenharia. ‘Se a escolha dos conteúdos
dependesse de nós, seria um desastre’, ele diz.
Pode parecer modéstia demais
para o criador de uma plataforma que, hoje, reúne milhões de obras de arte
localizadas em mais de 2000 instituições pelo mundo, 60 delas só no
Brasil.
Mas, conversando com Sood, executivo criado em Mumbai e radicado em Londres,
fica claro o protagonismo das instituições culturais dentro do projeto, lançado
há nove anos.
Isso sem falar num
laboratório de experimentação que inclui pesquisas com machine learning e outras tecnologias e que conta com a colaboração de
profissionais das outras áreas do Google.
A plataforma já vinha, assim,
se expandindo em anos anteriores. Durante a pandemia da Covid-19, porém,
ganhou ainda mais importância. Num momento em que museus e centros culturais
fecharam ao público por causa das medidas de distanciamento social, a
quantidade de acessos ao site e ao aplicativo mais que dobrou, segundo Sood - ele
não revela números, no entanto.
O diretor credita esse
crescimento todo à capacidade da plataforma de juntar num mesmo local museus e
itens distantes um do outro na vida real, seja pela própria geografia ou pelas
disciplinas em que estamos acostumamos a agrupá-los - moda, artes plásticas,
ciência.
‘Nossas conversas iniciais
foram muito complicadas. Porque tínhamos que convencer os museus a se juntar
numa mesma plataforma, e mesmo no mundo real isso é difícil’, ele diz. ‘Mas,
para nós, tudo isso é cultura’.
É essa multiplicidade, aliás,
que Sood considera a maior vantagem do Google Arts and Culture. ‘As pessoas são obcecadas por pinturas, mas existem
tantas outras formas de arte e de cultura no mundo’, ele diz. ‘Meu consumo
pessoal de arte mudou drasticamente. Pois entendi que uma cultura não precisa
de telas a óleo para ser incrível, que há mais do que a visão ocidental da arte’.
‘E acho que o meio virtual
pode equalizar esse meio de campo. Você pode entrar na plataforma para
ver os girassóis do Van Gogh, mas acabar encontrando um trabalho
indiano numa técnica completamente diferente’, exemplifica o diretor.
Questionado se esse
nivelamento é observado na prática, Sood responde que a maior parte do tráfego
da iniciativa ainda vem dos grandes museus europeus e americanos.
Mas, ele continua, esse
cenário tem mudado bastante recentemente. Usuários da Ásia e da América Latina
foram os que mais cresceram nos últimos dois ou três anos. E a lista de
instituições mais visitadas hoje, é completamente distinta daquela do começo,
com museus do Brasil e da Índia galgando cada vez posições mais altas no
ranking.
Para esse processo ganhar
força, é fundamental trazer os museus e os curadores para o debate virtual, diz
Sood. ‘Não queremos juntá-los ali e usar algum tipo de engenharia para dizer
que esses são os top cem museus. Insistimos que os curadores é que escrevam
essa história’.
Ele conta que, nesses anos,
uma de suas maiores descobertas foi quanto conhecimento esses curadores têm, e
como eles têm medo, ou não sabem como comunicar isso online.
‘Acho que essa crise mostrou
que é do interesse deles participar dessa conversa’, afirma Sood.
‘Museus
precisam se sentir relevantes agora, porque mesmo nos tempos mais sombrios,
continuamos a buscar maneiras de nos inspirar, de nos conectarmos uns com os
outros. Basicamente, de nos educarmos’.
Fonte: Clara Balbi
| FSP
(JA, Jun20)
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