Rafael Sanzio, 1483-1520 -^- ‘Ressurreição de Cristo’, 1499-1502 |
Ressurreição de Cristo,
também conhecida como Ressurreição Kinnaird, é uma pintura a óleo sobre madeira
do mestre do renascimento italiano Rafael. A obra é uma das primeiras pinturas
conhecidas do artista, executada entre 1499 e 1502. É provável que seja um elemento de uma predela (*),
tendo-se aventado a hipótese do painel ser uma das obras remanescentes do
retábulo de San Nicola da Tolentino - a primeira encomenda documentada de
Rafael (seriamente danificada por um
terremoto em 1789, e cujos fragmentos encontram-se hoje dispersos em museus da
Europa).
A Ressurreição Kinnaird é uma
das primeiras obras conservadas de Rafael em que já se prenuncia a natureza
dramática de seu estilo compositivo, em oposição à poética branda de seu
mestre, Pietro Perugino. A composição, extremamente racional, é regida por uma
complexa geometrização ideal, que interliga todos os elementos da cena e lhe
confere uma peculiar animação rítmica, transformando as personagens do painel em
co-protagonistas de uma única ‘coreografia’. É possível notar na pintura a
influência estética de Pinturicchio e Melozzo da Forlì, embora a orquestração
espacial da obra, tendente ao movimento, permita supor o conhecimento por parte
de Rafael do ambiente artístico florentino, já por volta de 1500.
A obra, de uma fortuna
crítica bastante contrastada, foi adquirida pelo Museu de Arte de São Paulo em 1954. Pietro
Maria Bardi, então diretor do museu, assumiu a responsabilidade de incorporar a
Ressurreição Kinnaird ao corpus de obras de Rafael, tomando por base a
existência de dois estudos preparatórios para a composição, iniciando um
acalorado debate sobre sua autoria. Atualmente, a atribuição a Rafael é quase
consensualmente aceita pelos especialistas. É a única obra do artista conservada
no hemisfério sul.
(*) Predela
Um retábulo de Carlo Crivelli: a predela é formada por uma sequência de quatro painéis, representando cenas da Paixão de Cristo. |
Predela (do italiano predella) é uma plataforma ou pedestal sobre o qual se posiciona o retábulo de
um altar. Nas artes visuais, define-se como predela um conjunto de pinturas ou
esculturas que, dispostas lado a lado, formam a parte inferior de um retábulo.
A predela tornou-se um elemento bastante importante na arte religiosa medieval
e renascentista. Em geral, a sua função iconográfica é a de complementar a cena
representada no painel central do retábulo através de pequenas narrativas
representando episódios da vida de um santo, de Jesus ou da Virgem Maria. O
padrão mais comum é o de frisos horizontais contendo entre três e cinco
painéis.
As predelas são consideradas
elementos bastante significativos na história da arte ocidental. Como eram
consideradas figuras visuais acessórias do retábulo e estavam destinadas a
serem somente vistas de perto, permitiam ao artista trabalhar com mais
liberdade em relação às rígidas convenções iconográficas que vinculavam a cena
do painel principal. Ao longo do tempo tornaram-se mais sofisticadas, até que,
durante o Maneirismo, foram gradualmente deixando ser executadas, desaparecendo
quase por completo com o advento do Barroco. Hoje, é bastante comum que os
painéis que originalmente formavam predelas se encontrem dispersos em coleções
públicas e privadas.
Fonte: WP e dvs
(JA, 12-Abr20)
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