Mostra recebe 300 peças do Mian, fechado
desde 2016 por falta de recursos
O Exército na Rua Eco-92, Pedro da Conceição, 1992 |
Fechadas ao público há mais
de dois anos, 300 obras do Mian (Museu Internacional de Arte Naïf do Brasil)
estão em exposição na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio. Com 6.000
peças em acervo —o maior de arte naïf no mundo—, o Mian fechou as portas de seu
casarão no bairro do Cosme Velho em dezembro de 2016, por falta de recursos.
A mostra exibe peças de
artistas como Dalton Paula, Heitor dos Prazeres e Amadeo Luciano Lorenzato. ‘São
nomes considerados naïf por preconceito, porque eles já figuram em outras
coleções e são mais complexos do que isso’, afirma o curador Ulisses Carrilho. ‘Antes
de fazerem sucesso, são considerados naïf e depois se reinventa um nome para
chamá-los’.
Naïf (ingênuo, em francês) é
o gênero guiado pelo autodidatismo de artistas. ‘Eu não acredito que esses
pintores sejam mais emotivos, ou mais ingênuos do que outros’, afirma Carrilho.
Na exposição, obras ditas naïf dialogam com outras de arte contemporânea de
mais de 40 artistas, sem delimitação de gêneros. ‘Não há artistas naïf ou não
naïf. Há artistas’.
A curadoria toca na hipótese
de que o autodidatismo artístico no Brasil seja menos uma escolha do que uma imposição.
Para Carrilho, a questão precisa ser considerada a partir da realidade social
brasileira. ‘A questão aqui está muito mais ligada à falta de acesso ao ensino
público’, diz.
Cortando Árvores, Ricardo Ozias |
A mostra é aberta com seis
telas a óleo, pintadas com dedos e escovas de dente, do mineiro Odoteres
Ricardo de Ozias (1940-2011). É uma sequência nunca antes exposta, que conta
uma série narrativa histórica —da captura de negros em solo africano, à sua
chegada e escravização no Brasil.
Negro e pobre, Ozias veio do
interior de Minas para o Rio, foi pedreiro e ferroviário, virou pastor
evangélico e pintou aspectos da negritude e do candomblé. ‘A discussão sobre o
acesso à educação pública está intimamente colocada dentro de uma discussão
antirracista’, diz o curador.
Com o subtítulo-manifesto ‘Nenhum
Museu a Menos’, a mostra faz alerta sobre o deterioramento e o fechamento de
museus no país. Além do próprio Mian, Carrilho lembra no Rio os casos do Museu
Nacional, incendiado em 2018, e do Museu Casa do Pontal, fechado após inundação.
Arte Naïf – Nenhum Museu a Menos
Seg. a dom., das 11h às 17h (qui. até as 20h), na
Escola de Artes Visuais, r. Jardim Botânico, 414, Rio de Janeiro. Grátis. Até
7/7
Fonte: Luís Costa |
FSP
(JA, Mai19)
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