sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Masp e MAM se rendem ao virtual

Exposições de Hélio Oiticica e Antônio Dias estavam em montagem quando coronavírus fechou museus em São Paulo

Na semana em que começou a quarentena em São Paulo, dois dos principais museus da cidade de São Paulo, o Masp e o MAM,  planejavam abrir mostras cercadas de expectativa.

 

                                        Museu de Arte  de São Paulo – av. Paulista

A do Masp era ‘Hélio Oiticica: A Dança na Minha Experiência’, que articula o tema da programação deste ano, a dança, e o incontornável artista carioca, um dos maiores nomes do neoconcretismo.

A do MAM, a primeira retrospectiva do paraibano Antonio Dias desde a sua morte, há dois anos, com o subtítulo de ‘Derrotas e Vitórias’.


Museu de Arte Moderna de São Paulo – Parque do Ibirapuera


Quase seis meses depois, elas enfim podem ser vistas pelo público, em prévias virtuais —os museus ainda não têm data para retomar as atividades, embora a prefeitura paulistana estime que isso possa acontecer entre o final de setembro e o início de outubro.

No caso do Masp, esse aperitivo consiste numa seleção de imagens das obras e da exposição montada no subsolo, e de um vídeo de uma visita guiada por ali com o curador-chefe da instituição, Tomás Toledo. Ainda foi lançado um catálogo caprichado, à venda no site do museu.


      Réplicas de parangolés que podem ser vestidos pelo público na mostra 'Hélio Oiticia - A Dança na Minha            Experiência', no Masp 


Toledo afirma que a proposta da exposição era partir dos parangolés - icônicas capas criadas por Oiticica para serem vestidas pelo público -, mas sem se limitar a isso.

Desse modo, ali estão reunidos vários dos ‘Metaesquemas’ do artista, em que formas geométricas e traços coloridos parecem bailar sobre o papel. Também estão lá seus ‘Núcleos’, ‘Penetráveis’ e ‘Bólides’, peças que traduzem as preocupações cromáticas e geométricas para um espaço tridimensional e que marcam o início da busca de Oiticica pela aproximação com o corpo do visitante.

Os últimos, caixinhas com pigmentos e outros materiais que originalmente podiam ser manuseadas pelo público, inauguram o momento em que o carioca começa a tratar de temas políticos e sociais na sua obra. ‘São trabalhos que trazem a rua para dentro de si’, diz Toledo.

Ele lembra o ‘Bólide’ em homenagem ao bandido carioca Cara de Cavalo, executado à queima-roupa pela polícia nos anos 1960. Ou aquele que, abrigando um espelho, reflete os passantes e o local onde estão.

 


É, porém, um outro ‘Bólide’ da mostra que talvez melhor resuma a busca do artista no momento anterior à invenção dos parangolés, diz o curador. É uma caixa cheia de água, que tem no fundo a inscrição ‘mergulho no corpo’.

Já a mostra do MAM reúne trabalhos encontrados no próprio ateliê de Dias, no Rio de Janeiro, cidade onde ele viveu seus últimos oito anos. O peso deles, aliado ao fato de que o artista chegou a comprar alguns dos itens de outros colecionadores, podem indicar como Dias enxergava suas criações, diz Felipe Chaimovich, à frente da mostra. ‘É um museu que ele fez da própria obra’.

Da seleção original de quase 70 peças, porém, só dez estão na prévia que o museu inaugurou no ‘Google Arts and Culture’. A maioria delas é acompanhada de trechos de entrevistas de Dias que, na exposição original, estariam decalcadas nas paredes. ‘Quis muito dar voz ao artista, já que era a coleção dele’, justifica Chaimovich.

 

                                'Nota Sobre a Morte Imprevista', de Antônio Dias, de 1965


A mostra online constrói, assim, uma espécie de panorâmica da trajetória do artista, passando das referências aos quadrinhos de obras como a seminal ‘Nota sobre a Morte Imprevista’, da época da ditadura, até chegar à sua produção dos anos 2000 com ‘Seu Marido’, figura saltitante que, coberta por franjas amarelas, lembraria um personagem infantil, não fosse a aparência fálica.


                              'Eu Marido', obra de Antonio Dias, 2002, em colaboração com a Coopa-Roca RJ 


Segundo Chaimovich, são trabalhos marcados por uma certa incompletude, não só em termos de composição como num sentido ético. ‘Sempre há algo que falta, e de certa maneira essa falta costura toda a obra. É um artista que lidou com a ideia da finitude humana’, afirma o curador.

Mesmo que a reunião de obras do ‘Google Arts and Culture’ seja uma boa porta de entrada para o trabalho de Dias, a transposição para a tela do computador deixa alguns prejuízos.

Exibida numa fotografia, imóvel, ‘Seu Marido’ perde parte do humor e da surpresa. A série de vídeos ‘The Illustration of Art/Gimmick’, em geral mostrada em três televisores, foi reduzida a um único frame.

Isso sem falar nos trabalhos que usam pigmentos minerais, que, na visão de Dias, operavam como condutores de energia. ‘A representação virtual é sem dúvida didática, mas, para o próprio artista, o sentido de várias de suas obras é físico’, diz Chaimovich.

Na mostra de Oiticica, a maior perda será da mostra física. As réplicas de parangolés que o museu produziu para serem usadas pelos visitantes, a princípio, não poderão ser manuseadas, por causa do risco de transmissão do coronavírus, conta Toledo.

 

HÉLIO OITICICA: A DANÇA NA MINHA EXPERIÊNCIA

Onde Site do Masp

Link   https://masp.org.br/exposicoes/helio-oiticica-a-danca-na-minha-experiencia

 

ANTONIO DIAS: DERROTAS E VITÓRIAS

Onde Página do MAM-SP na plataforma ‘Google Arts and Culture’

Link https://artsandculture.google.com/partner/museu-de-arte-moderna-de-sao-paulo

 

Curadoria Felipe Chaimovich

 



Fonte: Clara Balbi   |   FSP

 

(JA, Ago20)

 


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