O nome vem
do árabe e ganhou tradição em terras portuguesas. O azulejo tem 500 anos de produção nacional e é caso único como
elemento decorativo e arquitetônico. Revestiu igrejas, palácios e mudou a
paisagem urbana.
A arte da
azulejaria criou raízes na Península Ibérica por influência dos árabes, que
trouxeram para as terras conquistadas os mosaicos para ornamentar as paredes
dos seus palácios, conferindo-lhes brilho e ostentação, através de um jogo
geométrico complexo.
O estilo
fascinou espanhóis e portugueses. Os artesãos trabalharam a técnica mourisca, cuja
execução era demorada, simplificaram-na, e a adaptaram aos padrões do gosto
ocidental.
Os primeiros
exemplares usados em Portugal, os Hispano mouriscos, vieram nos finais do
século 15 de Sevilha, e serviram para revestir
as paredes de palácios e igrejas. Passados cerca de setenta anos, em 1560, começam a surgir em Lisboa oficinas de olaria que
produziam azulejos, segundo a técnica de faiança importada de Itália.
A originalidade
da utilização do azulejo português, e o diálogo que estabeleceu com as outras
artes, veio fazer dele caso único no mundo. No Museu Nacional do Azulejo,
encontram-se painéis que testemunham a evolução e a monumentalidade da cerâmica
decorativa que se adaptou às necessidades, acompanhando os estilos das
diferentes épocas. O Retábulo da Nossa Senhora da Vida dos finais do século 16 , composto por 1384
azulejos que sobreviveram ao grande terramoto, é, para a historiadora de arte
Alexandra Curvelo, um exemplo da importância do azulejo em Portugal.
A nova
indústria do azulejo floresceu com as encomendas da nobreza e do clero. Grandes
painéis foram então fabricados na medida para preencher as paredes de igrejas,
conventos, palácios, solares e jardins. A inspiração vinha das artes
decorativas, dos têxteis, da ourivesaria, das gravuras, e das viagens dos
portugueses ao oriente.
Surgiram grandes composições cenográficas, característica marcante do barroco, com motivos geométricos, temáticas figurativas e vegetalistas de uma fauna e flora exóticas. Foi quando surgiu o azulejo de padrão, com destaque para os frontais de altar, uma das formas originais da utilização do azulejo, , como podemos apreciar neste extrato do programa ‘Visita Guiada’.
Foram as classes dirigentes que, primeiramente, cultivaram o gosto pelo azulejo, escolhendo a temática mais apropriada à decoração dos edifícios; desde campanhas militares, episódios históricos, a cenas do quotidiano, religiosas, mitológicas, e até algumas sátiras. Aos oleiros, cabia satisfazer os pedidos, copiando modelos, adaptando modas e estilos.
No final do século 17, a qualidade da produção e execução foi maior. Famílias inteiras se envolveram na arte de fazer azulejos e, alguns pintores começam a se afirmar enquanto artistas, passando a assinar as suas obras, dando assim início ao Ciclo dos Mestres.
Na azulejaria portuguesa surgiram cena inusitadas, que surpreendem, quer pela sua originalidade, pela audácia do artesão em substituir seres humanos por macacos, onças e galinha, por exemplo, construindo desta forma histórias fantasiosas, irônicas, que despertam o riso.
A
preocupação em trazer novos temas para as artes decorativas, deve-se muitas
vezes a um certo improviso, associado a esta forma única de querer fazer
diferente. A policromia dos amarelos, dos verdes, dos castanhos arroxeados, deu
lugar ao azul sobre fundo branco - duas cores herdadas por influência holandesa
e da porcelana oriental.
Depois do
terremoto de 1755, a reconstrução de Lisboa vai impor
outro ritmo na produção de azulejos de padrão, hoje designados pombalinos,
usados para decoração dos novos edifícios.
Os azulejos passaram
a ser fabricados em série, combinando técnicas industriais e artesanais.
Nos finais do século 18, o azulejo deixa de ser exclusivo da nobreza e do clero. A burguesia abastada faz as primeiras encomendas para as suas quintas e palácios. Os painéis contam por vezes a história da família, e até da sua ascensão social, como se vê no conjunto intitulado ‘História do Chapeleiro António Joaquim Carneiro’, exposto no museu Nacional do Azulejo.
A partir do século 19, o azulejo ganhou mais visibilidade, saindo dos palácios e das igrejas para as fachadas dos edifícios, numa estreita relação com a arquitetura.
A paisagem
urbana iluminou-se com a luz refletida nas superfícies vidradas. A produção
azulejar é intensa; são criadas novas fábricas em Lisboa, Porto e Aveiro.
Mais tarde,
já em pleno século 20, o azulejo entra nas estações ferroviárias
e metrô, sendo que alguns conjuntos são assinados por artistas consagrados.
A tradição
fez-se ainda mais popular, apresentando-se como solução decorativa para
cozinhas e casas-de-banho, numa prova de resistência, inovação e renovação
desta pequena peça cerâmica.
Fonte: RTP Ensina - Visita Guiada - Convento da Madre Deus, Lisboa
(JA, Mar21)
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