quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Mostra resgata expedições do artista plástico Flávio de Carvalho


Um dos maiores e mais extravagantes nomes do modernismo no país, Flávio de Carvalho (1899-1973) costuma ser lembrado por performances e experiências públicas -como seu ‘new look’ masculino para o verão, composto de saia, meia-arrastão e sandálias, que desfilou nas ruas de São Paulo de 1956.
Agora, uma exposição em São Paulo resgata um lado menos recordado desse artista multidisciplinar -conhecido como pintor, arquiteto, figurinista e cenógrafo.
‘Flávio de Carvalho – Expedicionário’, que a Caixa Cultural abre ao público de São Paulo nesta quarta (10), tem o propósito, segundo seu curador, Renato Rezende, de pensar em Flávio de Carvalho como uma espécie de pioneiro na produção artística etnográfica.
Para Rezende, nas quatro viagens abordadas na mostra, o artista se arrisca e "cria infusão com o seu objeto e outras criações" dos povos visitados em locais variados.
A mostra traz registros, em fotografias, filmes e artigos que Carvalho publicava no ‘Diário de São Paulo’, de expedições à Europa, ao Peru, ao Araguaia e à Amazônia.
Comparando as viagens de Carvalho às de outro modernista ilustre, Mário de Andrade, Rezende vê no primeiro uma abordagem mais contemporânea do ato de viajar.
Enquanto Mário se dedicava a pesquisar, documentar e se deixar influenciar pela arte popular, para o curador, Flávio de Carvalho encara cada viagem como possibilidade de viver experiências.
Cada destino apresentado na exposição dá a chance de observar um aspecto diferente do trabalho de Carvalho.
No Peru, ele retrata o país a partir de pranchas fotográficas. No Araguaia, ele trabalha com peças de vestuário e danças; na Europa, ele pesquisa os costumes da vida urbana -aproximando-se, segundo Rezende, do viés de um antropólogo que se debruça tanto sobre os grandes centros como sobre a periferia.
A última parte da exposição é dedicada a expedição à Amazônia em que Carvalho deveria ter gravado o filme ‘A Deusa Branca’. A produção seria em parte ficcional, sobre uma jovem branca raptada pelos índios, e em parte pesquisa etnográfica, com danças e canções indígenas.
Após problemas internos com o grupo de filmagem, equipamentos cinematográficos e com o SPI (Serviço de Proteção ao Índios, antecedente da Funai), o longa ficou inconcluso, mas trechos captados na expedição estão disponíveis na mostra.
O curador conta que um dos motivos para a interrupção do filme foram os desentendimentos passionais. Carvalho teria escalado duas atrizes para atuarem no filme e acabou se envolvendo com elas.
Enquanto o artista dizia, ‘ter sido perseguido [pelo SPI], que não o deixava trabalhar’, conta Rezende, membros da equipe reclamavam que o artista só queria saber de ‘namorar’. Isso gerou conflitos na equipe -teria havido até troca de tiros.
‘Carvalho e essas moças foram abandonados no lugar, e o filme foi um fracasso total’, explica Rezende.

FLÁVIO DE CARVALHO - EXPEDICIONÁRIO
ONDE: Caixa Cultural, praça da Sé, 111, tel. (11) 3221-4400
QUANDO: de ter. a dom., das 9h às 19h; até 4/3; grátis

Texto: Isabella Menon   |   FSP

(JA, Jan18) 

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