Um dos maiores e mais extravagantes nomes do modernismo no país, Flávio de Carvalho (1899-1973) costuma ser lembrado por performances e experiências públicas -como seu ‘new look’ masculino para o verão, composto de saia, meia-arrastão e sandálias, que desfilou nas ruas de São Paulo de 1956.
Agora, uma
exposição em São Paulo resgata um lado menos recordado desse artista
multidisciplinar -conhecido como pintor, arquiteto, figurinista e cenógrafo.
‘Flávio de
Carvalho – Expedicionário’, que a Caixa Cultural abre ao público de São Paulo
nesta quarta (10), tem o propósito, segundo seu curador, Renato Rezende, de
pensar em Flávio de Carvalho como uma espécie de pioneiro na produção artística
etnográfica.
Para Rezende,
nas quatro viagens abordadas na mostra, o artista se arrisca e "cria
infusão com o seu objeto e outras criações" dos povos visitados em locais
variados.
A mostra traz
registros, em fotografias, filmes e artigos que Carvalho publicava no ‘Diário
de São Paulo’, de expedições à Europa, ao Peru, ao Araguaia e à Amazônia.
Comparando as
viagens de Carvalho às de outro modernista ilustre, Mário de Andrade, Rezende
vê no primeiro uma abordagem mais contemporânea do ato de viajar.
Enquanto Mário
se dedicava a pesquisar, documentar e se deixar influenciar pela arte popular,
para o curador, Flávio de Carvalho encara cada viagem como possibilidade de
viver experiências.
Cada destino
apresentado na exposição dá a chance de observar um aspecto diferente do
trabalho de Carvalho.
No Peru, ele
retrata o país a partir de pranchas fotográficas. No Araguaia, ele trabalha com
peças de vestuário e danças; na Europa, ele pesquisa os costumes da vida urbana
-aproximando-se, segundo Rezende, do viés de um antropólogo que se debruça
tanto sobre os grandes centros como sobre a periferia.
A última parte
da exposição é dedicada a expedição à Amazônia em que Carvalho deveria ter
gravado o filme ‘A Deusa Branca’. A produção seria em parte ficcional, sobre
uma jovem branca raptada pelos índios, e em parte pesquisa etnográfica, com
danças e canções indígenas.
Após problemas
internos com o grupo de filmagem, equipamentos cinematográficos e com o SPI
(Serviço de Proteção ao Índios, antecedente da Funai), o longa ficou
inconcluso, mas trechos captados na expedição estão disponíveis na mostra.
O curador
conta que um dos motivos para a interrupção do filme foram os desentendimentos
passionais. Carvalho teria escalado duas atrizes para atuarem no filme e acabou
se envolvendo com elas.
Enquanto o
artista dizia, ‘ter sido perseguido [pelo SPI], que não o deixava trabalhar’,
conta Rezende, membros da equipe reclamavam que o artista só queria saber de ‘namorar’.
Isso gerou conflitos na equipe -teria havido até troca de tiros.
‘Carvalho e
essas moças foram abandonados no lugar, e o filme foi um fracasso total’,
explica Rezende.
FLÁVIO DE CARVALHO - EXPEDICIONÁRIO
ONDE: Caixa Cultural, praça da Sé, 111, tel. (11) 3221-4400
QUANDO: de ter. a dom., das 9h às 19h; até 4/3; grátis
Texto:
Isabella Menon | FSP
(JA, Jan18)
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