Ao longo de
quatro décadas, Chichico Alkmim (1886-1978) fotografou.
Integrante de
uma geração de retratistas, ele transmitia sua linguagem com ‘olhar de pintor’,
em imagens que se assemelham a ‘pinturas renascentistas’.
Assim Eucanaã
Ferraz, curador de mostra com cerca de 300 imagens que chega a São Paulo, após
passagem pela sede carioca do IMS, define o trabalho do fotógrafo.
A mostra
começa com retratos que remetem ao ateliê de Chichico e segue com fotografias
de Diamantina, em que estão representados o comércio, a indústria, o garimpo e
as festas populares.
Alkmim se
instalou na cidade mineira em 1912, depois de viajar pela região vendendo joias
com seu pai.
Nos retratos
apresentados no início da exposição, é notável a preocupação dos fotografados
em aparecerem bem vestidos independentemente da classe social.
O fundo das
imagens mostra paisagens pintadas como cenários. ‘Era a sua tentativa de montar
um estúdio’, explica Ferraz.
Em seguida, a
mostra segue fotos ao aberto. Mesmo fora do estúdio, Alkmim não perde sua marca
registrada; fotos posadas contra algum cenário ou pano de fundo são quase
sempre a regra.
Em algumas
fotografias, nota-se a presença de flores nos trajes das pessoas fotografadas. ‘É
uma vontade de compor algo anticonvencional’, diz o curador.
Outra
característica é a constante presença de crianças nos cliques do fotógrafos.
Algumas mostram contrastes sociais do período.
Em uma época
que o uso sapato denotava distinção de classe, o elemento do vestuário deixa
perceber que Alkmim contemplava desde as classes mais abastadas aos mais pobres
em seus retratos.
‘Nem todas as
crianças usavam sapato, e as que usavam as vezes usavam em só um pé para não
gastar’, explica o curador.
De acordo com
Ferraz, estudos mostram que Alkmim não cobrava de algumas pessoas, e as
fotografava em troca de um pedaço de rapadura ou de uma galinha.
‘Era uma coisa
completamente doméstica’, diz Ferraz. ‘Ao mesmo tempo, ele foi se tornando um
exímio artista da luz, das texturas, da composição que era uma coisa
indisponível da época’.
Em um espaço
anexo ao corpo da exposição, em uma pequena sala, são expostos materiais que o
fotógrafo utilizava na época, como negativos de vidro e imagens impressas pelo
artista.
A mostra
contém também uma máquina fotográfica que se assemelha à que Alkmim utilizava
na época; ao seu lado, há uma explicação sobre o funcionamento do equipamento.
ANJINHOS
Nas fotos que
contemplam as festas populares, ele também retratava os ‘anjinhos’, como eram
chamadas as crianças que morriam.
‘Ele foi um
dos últimos a fotografar essas cerimônias’, nas quais as crianças eram vestidas
de anjos. ‘São fotos impactantes’, define Ferraz sobre a série que mostra pais
velando os filhos assim representados.
‘Acreditava-se
na pureza de quem teve a chance de morrer criança e, portanto, ser um anjo.
Sendo um anjo, a crença era que a criança poderia interceder em favor dos seus
familiares’.
*
CHICHICO ALKMIM, FOTÓGRAFO
QUANDO até 15/4; ter. e qua. a dom. das 10h às 20h e qui. das 10h às 22h
ONDE Instituto Moreira Salles, av. Paulista, 2.424
QUANTO entrada gratuita
Texto: Isabella Menon | FSP
Imagem: Homens de Diamantina posam para foto em parque, 1945
(JA, Jan18)
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