sábado, 15 de abril de 2023

Pablo Picasso


50 anos sem Picasso: os períodos e as cores de suas obras

O pintor Pablo Picasso, grande influência do século 20, foi um dos fundadores do cubismo, e pioneiro na arte de colagem. Espanhol, nascido em Málaga, ele revolucionou a forma de fazer arte, tornando-se um dos expoentes do modernismo.

Quando morreu em 8 de abril de 1973, aos 91 anos, o artista tinha um portfólio de mais de 13 mil telas, 100 mil gravuras, 34 mil ilustrações e 300 esculturas. Suas obras passaram por diversos períodos e estilos ao longo dos 78 anos de carreira artística.

Um dos mais marcantes foi o período azul, que durou de 1901 a 1904. Picasso enfrentava uma crise emocional na época, e utilizou tons azuis, esverdeados e escuros para enfatizar os temas sombrios retratados nas pinturas. Já no período rosa, que durou de 1904 a 1907, as temáticas boêmias e circenses receberam cores mais leves, como tons rosados, alaranjados e azul-claro.


A partir de 1907, durante o período africano as paletas ganharam cores secas e monocromáticas. Essas tonalidades ressaltavam as formas mais geométricas e abstratas, que tiveram seu auge a partir de 1909, com o cubismo analítico. No momento seguinte, a partir de 1912, no cubismo sintético, a tonalidade ganhou saturação e as formas tornaram-se menos abstratas.

 


As cores saturadas também foram bastante utilizadas durante os períodos neoclassicista e surrealista, que ocorreram nas décadas de 1920 e 1930. Uma das obras mais importantes desse momento é Guernica, que retrata um bombardeio nazista na Espanha e se tornou um símbolo do antimilitarismo.

 


A mudança para tons mais sombrios ocorreu nos anos seguintes, durante o período da guerra e pós-guerra. No último período de sua carreira artística, a partir dos anos 1950, Picasso produziu mais de 400 obras retratando sua segunda esposa, Jacqueline Roque. O erotismo também foi um elemento significativo nessa fase.

 


Fonte: Nexo | Nos Eixos


(JA, Abr23)

 

 


domingo, 15 de janeiro de 2023

Artesão brasileiro paga para poder vender seu produto

Diagnóstico feito pela UFMG, a pedido do Ministério da Economia, aponta várias demandas no setor

 

Da esquerda para a direita: Vanderléa Lima, Walter Alves, Altamira Bastos da Silva, Sabrina Karid e Sherlei Aparecida Torrisi, ceramistas da Cerâmicas Baluarte, Associação de artesãos de São Bernardo do Campo


Dificuldade para comprar material, expor seu trabalho e vender em condições justas são algumas das dificuldades do artesanato brasileiro identificadas por diagnóstico recém-divulgado pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), feito a pedido do Ministério da Economia, durante o governo Bolsonaro. O documento também apontou que o artesão se encontra em uma situação vulnerável, já que uma parcela significativa recebe menos do que um salário-mínimo e não tem proteção previdenciária.

O documento de aproximadamente 500 páginas, nascido por meio do PAB (Programa do Artesanato Brasileiro), contém análise com indicação de sugestões e soluções para problemas emergenciais, segundo Mariana Pompermayer, professora da Escola de Belas Artes da UFMG, que integra a coordenação geral do projeto.

"Existe muita diferença regional. Considerando a dimensão do país, pensar em uma política pública única é complicado. Então a gente precisa ter um aprofundamento para entender isso."


Material produzido na associação cerâmicas Baluarte, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo


A primeira etapa foi concluída em dezembro de 2022 e indica que as políticas públicas para o setor, que movimenta cerca de 8,5 milhões de pessoas no país, são praticamente inexistentes. As discussões para ajustes no setor são antigas e foram ainda mais esvaziadas nos últimos anos, de acordo com Isabel Gonçalves, conselheira da Confederação Nacional dos Trabalhadores Artesãos do Brasil.

A conselheira diz que a lei federal 13.180/2015, sancionada pela então presidente Dilma Rousseff (PT), que regulamentou a profissão de artesão, criou "um alinhamento, um projeto construído para o artesanato brasileiro"

"Foi uma política pública traçada com apresentação da categoria em todos os estados, mas não saiu do papel. Não temos políticas públicas. Só temos ações pautadas em realização de feiras. O programa está resumido a isso. Somos os únicos artistas no país que pagamos para assistirem ao nosso show. Tem que comprar o espaço para mostrar a sua produção", diz Isabel.

O aprimoramento da lei é um dos pontos destacados no diagnóstico feito pela UFMG. "Tem uma falta de conhecimento em torno das questões do setor do artesanato, que a gente precisa explorar com os gestores, com os artesãos, para chegar a um entendimento de como formular essas políticas de uma melhor forma", diz Mariana Pompermayer. 

 

De acordo com a área técnica do Ministério da Economia, já há discussões para a reformulação da lei.

O relatório, que contou com a colaboração de outras oito universidades federais e estaduais, também aponta uma "alta dependência" das gestões estaduais e municipais para fomentar o artesanato.

Segundo o levantamento, Amazonas, Santa Catarina, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Acre, Rio Grande do Norte, Bahia, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Ceará e Distrito Federal possuem leis voltadas à atividade.

O estado de São Paulo conta com uma subsecretaria, a Sutaco (Subsecretaria do Trabalho Artesanal nas Comunidades). De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, são 98 mil cadastros de artesãos no estado. A pasta também diz que faz parcerias com prefeituras para o "fomento do artesanato regional e apoio na realização de festivais locais".


 

A ceramista Vanderléa Lima, 44, coordenadora da Cerâmicas Baluarte, associação de artesãos em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, segura uma das peças inspiradas na Mata Atlântica 

A ceramista Vanderléa Lima, 44, trabalha com artesanato há cinco anos. Coordena a associação Cerâmicas Baluarte, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Segundo a artesã, são 16 famílias envolvidas no trabalho. Ela aponta o escoamento da produção como um grande gargalo do setor.

"A Secretaria Estadual de Desenvolvimento sempre chama a gente para grandes eventos, como o Mesa São Paulo, por exemplo. Somos convidados a participar, inserirmo-nos nesses mercados, mas ainda não tem uma política muito clara", diz.

A associação fica em uma área rural, próxima à represa Billings. As peças, como pratos, travessas, tigelas e xícaras, são inspiradas na Mata Atlântica. A maioria das pessoas que trabalham nela são mulheres.

"Faltam incentivos para escoar a mercadoria, acessar grandes mercados. Tem peças que a gente faz que pode custar R$ 300, mas não sabemos quando vai vender. Depende de feiras, de alguns eventos", diz Vanderléa.

"Muitas mulheres preferem fazer faxina durante o dia para poder ter dinheiro para levar comida para casa à noite." 

Segundo o PAB, a comercialização do material é uma das prioridades do programa. Uma das sugestões apontadas no relatório do mapeamento é a "criação de uma política de comercialização consistente para o setor, que, de fato, contribua para a sua sustentabilidade".

Além disso, existe um outro desafio que é o desinteresse dos mais jovens.

"O acesso dos jovens à educação formal, e a bens e serviços que seus antepassados não experimentaram, incentivam-nos a buscar outras ocupações, com remuneração mais alta, e processo de trabalho menos desgastante. Disso decorre que a ocupação de artesão é atualmente, em média, composta por pessoas mais velhas do que das demais ocupações", diz o relatório.

Para Isabel Gonçalves, a questão vai além. "O artesanato sempre foi visto como uma questão assistencialista. ‘Ah, eu não tenho nada, vou ser artesã’. Não existe isso. O artesanato é consolidado, uma representação cultural. Ele, economicamente, tem uma grande importância."

Neste ano estão previstas mais duas etapas no trabalho da UFMG. Uma delas é aprofundar a pesquisa, com os recortes regionais. A outra é disponibilizar cursos de extensão para atendimento de demandas do setor.

Segundo o PAB, também deverá ser criado um selo para identificar e premiar o produto nacional. Há a promessa para que o Sicab (Sistema de Informações Cadastrais do Artesanato Brasileiro) seja reformulado.

  

Fonte: Emerson Vicente | FSP

 

(JA, Jan23)


 

 

terça-feira, 5 de julho de 2022

Colosso de Rodes

 


Ficava na entrada do porto de Mandraki, na ilha grega de Rodes.  Foi considerada uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo.  

O Colosso de Rodes foi construído pelo escultor grego Carés de Lindos. A proposta era homenagear titã, deus do Sol da mitologia grega, Hélios, para comemorar a vitória de Rodes contra o governante macedônio Antígono Monoftalmo, cujo filho, Demétrio I, sem sucesso, sitiou Rodes em 305 a.C.

Segundo relatos antigos, os quais diferem em algum grau, a construção começou em 292 a.C. e descreve que foi construída uma estrutura com barras de ferro onde placas de latão foram fixadas para formar a ‘pele’ da estátua.

O interior da estrutura, que estava em um pedestal de mármore branco de 15 metros de altura, perto da entrada do porto de Mandraki, foi preenchida com blocos de pedra, conforme a construção foi progredindo. Outras fontes colocam o Colosso em um quebra-mar no porto.

De acordo com a maioria das descrições contemporâneas, o Colosso tinha aproximadamente 70 côvados, ou 33 metros - altura aproximada da Estátua da Liberdade (dos pés à coroa), o que o tornava uma das mais altas estátuas do mundo antigo.

Grande parte do ferro e do bronze utilizado na sua construção, foi obtido das várias armas que o exército de Demétrio deixou para trás, após reforjadas.

As porções superiores foram construídas com a utilização de um grande rampa de barro. Durante a construção, os trabalhadores acumularam montes de terra nas laterais do colosso. Após a conclusão, toda a terra foi removida. A estátua foi concluída em 280 a.C, doze anos após o início da obra.

Existiu por 54 anos, até 226 a.C, quando um terremoto devastador a quebrou, na altura dos seus joelhos, e ela desabou.  Nunca foi reconstruída.  

A história nos deu muitas representações artísticas do Colosso, mas sua localização exata em Mandraki ainda permanece um mistério.

 


Fonte: WP

 

(JA, Jul22)

quinta-feira, 9 de junho de 2022

Judy Garland, centenária, alcançou o arco-íris

Atriz de 'O Mágico de Oz' sofreu abusos nos bastidores, mas se tornou a grande diva de Hollywood

 

 

Em determinada cena de ‘Nasce uma Estrela’, de 1954, Judy Garland cantava e dançava para explicar à plateia o árduo caminho que percorreu até ver seu rosto reluzir numa tela de cinema. A paixão foi instantânea e, de repente, sua personagem no filme virou queridinha de Hollywood. Mas, na vida real, a estrela nasceu bem antes.

Neste 10 de junho, Garland completaria cem anos e, mesmo tendo vivido por breves 47 deles, ela continua uma das figuras que mais brilham na constelação de astros do showbiz. Como diz sua personagem em ‘Nasce uma Estrela’, ‘eu não virei sensação da noite para o dia, tudo começou há muitos anos’.

De fato, foi muito antes do papel que rendeu a ela a primeira indicação ao Oscar que Garland fixou seu rosto pueril e a voz potente no imaginário popular. Ela trabalhava nisso antes mesmo de ser tragada por um furacão, atropelar uma bruxa, e conhecer uma cidade coberta por esmeraldas, como a inesquecível Dorothy de ‘O Mágico de Oz’

 

Judy Garland como Doroty Gale, em 'O Mágico de Oz', 1939


Judy Garland foi esculpida para ser uma sensação das telas desde cedo. Aos dois anos, ainda como Frances Ethel Gumm, fazia sua estreia no teatro de vaudeville ao lado das irmãs. Filha de artistas, ela passou a infância nos palcos até ser descoberta por Louis B. Mayer, cofundador da MGM e um dos nomes mais poderosos da era de ouro de Hollywood, que acelerou o desabrochar de uma garota banal das entranhas do estado de Minnesota em diva do celuloide.

Essa seria sua passagem para a fama, mas também para a danação. Enquanto fazia pequenas aparições em filmes da década de 1930, a garota de 13 anos era submetida a rotinas obscenas de exercícios e dietas, para se adequar aos padrões de beleza da indústria.

Próteses dentárias, placas no nariz, e tinta nos cabelos, fizeram de Garland uma bonequinha nas mãos de Mayer, que teria sido o responsável pelo vício em barbitúricos que a mataria —a atriz dizia que as crianças da MGM tomavam medicamentos pesados do despertar ao adormecer.

Garland seria uma das primeiras e mais notáveis vítimas mirins dos excessos de uma indústria que, até pouco tempo atrás, ainda não tinha encontrado uma forma saudável de lidar com suas crianças e adolescentes —o colapso de Britney Spears, o assédio sofrido por Anthony Rapp, e a recusa de Mara Wilson em voltar às telas, são provas disso.

 

Judy Garland na primeira nova versão de 'Nasce uma Estrela, de 1954


Essa pressão apareceria em outra cena de ‘Nasce uma Estrela’, filme que curiosamente encontra vários paralelos com a vida de sua protagonista. Nela, um grupo de maquiadores reclama do nariz, do queixo, e de qualquer parte visível do corpo da atriz. A insegurança que isso gerou evoluiu para um comportamento autodestrutivo que acompanhou Garland ao longo da vida.

É curioso pensar que ela não foi a primeira escolha da MGM para ‘O Mágico de Oz’. Com Shirley Temple e Deanna Durbin indisponíveis, o estúdio teve de testar sua inclinação para o protagonismo, e o resultado foi avassalador.

O filme não recuperou seu gordo orçamento no lançamento original de 1939, mas se tornou uma das mais preciosas joias do cinema mundial, criando os moldes para uma farta e bem-sucedida leva de musicais em tecnicolor que dominaria aqueles anos dourados. Em boa parte, graças à versatilidade de Garland.

Nos primeiros acordes de ‘Over the Rainbow’, tema do filme e possivelmente a mais emblemática canção do cinema americano, ela hipnotizou o público não com beleza, mas com um talento inegável.

Com 17 anos e 1,51 metro de altura, a americana soltou a voz e nunca mais se calou. Seu timbre desproporcionalmente marcante, mal sabia ela, encantaria todas as gerações subsequentes de cinéfilos. Com seu olhar doce e sonhador, Garland foi capaz de encapsular toda a inocência e fantasia inerentes a qualquer criança —e da qual ela própria foi precocemente privada.

O que ela faz com o espectador nesse comecinho de ‘O Mágico de Oz’ é um dos melhores exemplos do que é a tal magia do cinema. E muita gente percebeu isso na época.

Garland venceu o extinto Oscar juvenil, e emendou sucesso atrás de sucesso na década de 1940 —foram 20 longas em dez anos. Em alguns deles, deu voz a outras canções que se tornariam standards, como ‘The Trolley Song’ e ‘Have Yourself a Merry Little Christmas’, do musical ‘Agora Seremos Felizes’, ou ‘Meet Me in St. Louis’.

Trabalhou com Fred Astaire e Gene Kelly, se envolveu com os diretores Vincent Minnelli e Orson Welles, virou amiga de John Kennedy, e foi se tornando uma figura indissociável da cultura americana, à medida que mergulhava no vício, na ruína financeira e na depressão, que a fez querer tirar a própria vida mais de uma vez.

Depois de gerar perdas consideráveis à MGM por causa de seus atrasos ou faltas nas filmagens, Garland foi liberada de seu contrato e, tão precoce quanto sua chegada ao estrelato, atingiu também o ostracismo, aos 28 anos.

Numa verdadeira relação tóxica com o showbiz, que ela tanto criticava, mas do qual era incapaz de se divorciar, decidiu pegar a estrada para uma série de shows e se reinventar. Garland esgotou as casas de espetáculos pelas quais passou, foi soterrada por elogios, e voltou a Los Angeles.

Talvez por isso tenha se tornado, ainda em vida, um ícone gay. ‘Homossexuais entendem o que é sofrer, assim como Garland’, publicaria a revista Esquire em 1969. ‘Ela é o Elvis dos homossexuais, um símbolo de liberdade emocional, uma mulher que lutou para viver e amar sem limites’, diria ainda a The Advocate.

Cantando sobre um lugar além do arco-íris, de cores vibrantes que contrastam com a realidade insossa do preto e branco, ela compartilhava com o público LGBTQIA+ que lotava seus shows um sentimento de inadequação, uma resiliência de quem é vítima de uma sociedade impiedosamente patriarcal.

Ela também custou para achar o amor, que esteve presente de forma breve, em seus cinco casamentos, alguns marcados por violência e mentiras. E seguia um estilo inegavelmente camp, sendo irônica e teatral, mesmo fora das telas.

De quebra, deu à luz outra diva, Liza Minnelli, ajudou a batizar o maior dos discos de Elton John, ‘Goodbye Yellow Brick Road’, foi imitada no reality show RuPaul’s Drag Race, e inspirou a gíria ‘amigo de Dorothy’, usada no mundo de língua inglesa para se referir a homens gays.

A vida de Judy Garland foi marcada por pontos altos e baixos, que se alternavam sem dar aviso prévio. Foi no período mais turbulento da carreira, aliás, que ela foi indicada a suas duas estatuetas do Oscar, por ‘Nasce uma Estrela’ e ‘Julgamento em Nuremberg’, se tornou a primeira mulher a vencer o Grammy de álbum do ano, com ‘Judy a Carnegie Hall’, e foi indicada ao Emmy.

Eleita pelo American Film Institute a oitava maior estrela da história de Hollywood, Garland sobreviveu ao teste do tempo desbancando aquelas mesmas atrizes belas e altas que a deixaram insegura durante toda a vida. Alcançou status de diva como poucas foram capazes, em parte por sua figura trágica —ideia que detestava—, mas especialmente por sua complexidade.

Judy Garland morreu aos 47 anos, em junho de 1969, após uma overdose acidental daqueles mesmos barbitúricos. Viveu intensa e apaixonadamente e fez muito, e muito bem, para cinema, teatro, música e TV.

Um século depois, a menina de vestido azul e sapatinhos de rubi, quem diria, brilha mais do que o arco-íris que queria alcançar.

 


Fonte: Leonardo Sanchez | FSP

 

(JA, Jun22)

 


 

Menina fugindo de bombardeio

 Símbolo da Guerra do Vietnã 

              Imagem icônica mostra menina vietnamita correndo nua após o bombardeio de sua vila. A fotografia foi feita em 8 de junho de 1972 (Foto: Nick Ut/AP)


Completaram-se 50 anos da manhã em que Nick Ut, fotógrafo sul-vietnamita, cobrindo a guerra em seu país, foi até Trang Bang, aldeia a 50 km de Saigon. Na véspera, soubera de combates acontecendo naqueles lados.

Nick, que era bem jovem e trabalhava na Associated Press, até hoje se lembra dos corpos à beira da estrada, e das centenas de pessoas tentando escapar. Finalmente, chegou a uma aldeia destruída por seguidos bombardeios. ‘Cansados daquilo, os moradores procuravam refúgio nas ruas, debaixo de pontes, ou em qualquer outro lugar onde conseguissem momentos de calma’.

Pelo meio-dia, tendo tirado várias fotos, ele saía da aldeia quando notou um soldado acionando uma granada de gás amarelo, das que serviam para indicar alvos. Pegou a câmera e imediatamente avistou um avião lançando quatro bombas de ‘napalm’.

Ainda sem saber se havia feridos, Nick foi voltando e logo encontrou pessoas fugindo do ‘napalm’.

Fiquei chocado quando vi uma mulher com uma perna terrivelmente queimada. Ainda guardo na retina uma idosa tendo ao colo um bebê que morreu na minha frente, e outra mulher carregando um menininho com descolamento da pele.

Então, ouviu gritos de criança: ‘Nong qua! Nong qua’ (‘Que quente! Que quente!’). Pelo ‘viewfinder’ da câmera, deparou-se com uma menina que havia tirado as roupas em chamas e, completamente nua, corria chorando na direção dele. Fotografou-a.

Ela gritava que estava morrendo, e pedia água. Baixei a câmera e dei-lhe meu cantil para beber. Querendo refrescá-la, joguei-lhe água no corpo, o que foi pior ̵ eu não sabia que não deve se derramar água em queimaduras. 

Nick enrolou-a num cobertor, e a levou na van, junto com o irmão, até o hospital mais próximo, na cidade de Cu Chi. Ela seria depois transferida para Saigon. Phan Thị Kim Phúc, que tinha nove anos, só voltaria para casa após 14 meses de internação, e 17 cirurgias, inclusive transplantes de pele. Quando saiu do hospital, ainda tinha limitações nos movimentos, e sentia dores ̵ algumas persistem até hoje.

A foto da menina correu o mundo nas primeiras páginas de jornais, e obteve o Prêmio Pullitzer. Por certo, você a conhece. Mais eloquente que qualquer palavra, ela se tornou um símbolo da Guerra do Vietnã, ajudando a mostrar sua barbaridade, e o papel moralmente indefensável dos Estados Unidos.

Durante anos, Kim detestou a foto, por aparecer nua. Sentia-se, porém, agradecida a Ult, que lhe salvara a vida. Ao mesmo tempo, convivia com sequelas das queimaduras ̵ além das dores, a consternação, até vergonha, de ver cicatrizes cobrindo-lhe um terço do corpo.

Foi só adulta, casada com um compatriota, e vivendo no Canadá, que por fim encontrou paz diante do sucedido. Mãe de dois filhos, criou em 1997 a Kim Phúc Foundation, para oferecer assistência física e psicológica a crianças vítimas de guerras, e a Unesco a nomeou Embaixadora da Boa Vontade. Nesse trabalho, viaja pelo mundo, visitando áreas conflagradas. Tendo ficado amiga do fotógrafo, a quem chama de ‘tio’, hoje entende que a foto lhe proporcionou uma singular chance de ajudar as pessoas.

Aposentado e morando em Los Angeles, Nick relembrou a história em artigo no Washington Post:

‘Odiarei para sempre’ ̵ escreveu ̵ ‘as circunstâncias em que Kim e eu nos conhecemos. (...). Mas tenho orgulho da foto, das emoções, e conversas que ela suscitou pelo mundo. A verdade continua sendo necessária. Se uma única foto pode fazer diferença, talvez ajudando a acabar com uma guerra, significa que nosso trabalho como fotógrafos é tão vital hoje, como sempre foi’. 



Kim Phuc Phan Thi

 

A ativista Kim Phuc Phan Thi fotografada em sua casa, em Ontário, no Canadá


Vive no Canadá e trabalha na Kim Foundation International, que presta ajuda a crianças vítimas de guerras em todo o mundo.

Cresci no vilarejo de Trang Bang, no Vietnã do Sul. Minha mãe disse que eu ria muito quando era menina. Tínhamos uma vida simples, com fartura de comida, pois minha família tinha uma fazenda, e minha mãe administrava o melhor restaurante do lugar. Lembro-me de que amava a escola e as brincadeiras com meus primos, pulando corda e correndo umas atrás das outras alegremente.

Tudo isso mudou em 8 de junho de 1972. Tenho apenas lampejos de memória daquele dia terrível. Eu estava brincando com meus primos no pátio do templo. No momento seguinte, passou um avião voando baixo com um barulho ensurdecedor. Então houve explosões, fumaça e uma dor horrível. Eu tinha 9 anos.

O napalm cola em você, não importa o quão rápido você corra, causando queimaduras e dores terríveis que duram a vida toda. Não me lembro de correr e gritar: ‘Nóng quá, nóng quá!’ (muito quente, muito quente!). Mas as imagens de filmes e as memórias de outras pessoas mostram que gritei.

Você provavelmente já viu minha foto tirada naquele dia, fugindo das explosões com os outros –uma menina nua com os braços estendidos, gritando de dor. Foi tirada pelo fotógrafo sul-vietnamita Nick Ut, que trabalhava para a agência Associated Press, e publicada nas primeiras páginas dos jornais do mundo todo. Ela ganhou o Prêmio Pulitzer. Com o tempo, tornou-se uma das mais famosas da Guerra do Vietnã.

Nick mudou minha vida para sempre com aquela foto notável. Mas ele também salvou minha vida. Depois que ele tirou a foto, largou a câmera, envolveu-me em um cobertor, e me carregou correndo em busca de atendimento médico. Sou eternamente grata.

No entanto, também me lembro de odiá-lo às vezes. Cresci detestando aquela foto. Pensava comigo mesma: ‘Sou uma garotinha. Estou nua. Por que ele tirou aquela foto? Por que meus pais não me protegeram? Por que ele imprimiu aquela foto? Por que eu era a única criança nua, enquanto meus irmãos e primos na foto estavam vestidos?’. Eu me sentia feia e envergonhada.


O fotógrafo Nick Ut com um cartaz exibindo sua foto premiada da Guerra do Vietnã, ao lado da retratada, Kim Phuc, em visita que os dois fizeram ao papa Francisco em 11-Mai22


Enquanto crescia, às vezes eu desejava desaparecer, não apenas devido aos meus ferimentos –as queimaduras marcavam um terço do meu corpo e causavam dor intensa e crônica–, mas também em razão da vergonha e do constrangimento de ser desfigurada.

Eu tentava esconder minhas cicatrizes sob as roupas. Sentia uma ansiedade e uma depressão horríveis. As crianças na escola fugiam de mim. Eu era uma figura de pena para os vizinhos e, até certo ponto, para os meus pais. À medida que envelhecia, temia que ninguém jamais me amasse.

Enquanto isso, a foto ficou ainda mais famosa, tornando mais difícil navegar por minha vida privada e emocional. A partir dos anos 1980, participei de entrevistas intermináveis e encontros com membros da realeza, premiês, e outros líderes, todos os que esperavam encontrar algum significado naquela imagem, e em minha experiência. A criança correndo pela rua tornou-se um símbolo dos horrores da guerra. A pessoa real olhava da sombra, com medo de que fosse exposta como uma pessoa danificada.

As fotografias, por definição, captam um momento no tempo. Mas os sobreviventes dessas fotos, em especial as crianças, devem de alguma forma seguir em frente. Não somos símbolos. Somos seres humanos. Precisamos encontrar trabalho, pessoas para amar, comunidades para abraçar, lugares para aprender e ser nutridos.

Foi somente na idade adulta, depois de desertar para o Canadá, que comecei a encontrar paz e a realizar minha missão na vida, com a ajuda de minha religião, meu marido e amigos. Ajudei a criar uma fundação, e comecei a viajar para países devastados pela guerra, para dar assistência médica e psicológica a crianças vítimas da guerra, oferecendo, espero, um sentido de possibilidades.

Sei como é ter sua aldeia bombardeada, sua casa destruída, ver membros da família morrerem, e corpos de civis inocentes caídos na rua. Esses são os horrores da Guerra do Vietnã, evocados em inúmeras fotografias e vídeos. Infelizmente, também são imagens das guerras em todos os lugares, das vidas humanas preciosas sendo danificadas e destruídas, hoje na Ucrânia.

São também, de forma diferente, as imagens horríveis dos tiroteios nas escolas. Podemos não ver os corpos, como fazemos com as guerras, mas esses ataques são o equivalente doméstico à guerra. A ideia de compartilhar as imagens da carnificina, especialmente de crianças, pode parecer insuportável –mas devemos enfrentá-las. É mais fácil se esconder da realidade da guerra se não virmos suas consequências.

Não posso falar pelas famílias em Uvalde, no Texas, mas acho que mostrar ao mundo as consequências reais de um tiroteio pode tornar concreta a terrível realidade. Devemos enfrentar essa violência de frente, e o primeiro passo é olhar para ela.

Carreguei os resultados da guerra em meu corpo. Você não se livra das cicatrizes, física ou mentalmente.

Sou grata hoje pela potência dessa minha fotografia aos nove anos de idade, assim como pela jornada que fiz como pessoa. Meu horror –do qual pouco me lembro– tornou-se universal. Estou orgulhosa porque me tornei um símbolo da paz. Levei muito tempo para abraçar isso como pessoa.

Posso dizer, 50 anos depois, que estou feliz por Nick ter captado aquele momento, mesmo com todas as dificuldades que aquela imagem criou para mim.

Essa imagem sempre servirá como um lembrete do mal indescritível de que a humanidade é capaz. Ainda assim, acredito que a paz, o amor e o perdão, sempre serão mais poderosos do que qualquer tipo de arma.

 


Fonte: A.C. Boa Nova | The New York Times



(JA, Jun22)

 


 

domingo, 27 de fevereiro de 2022

Volpi no Masp - o pintor foi de operário a astro modernista


O artista proletário se tornou um mestre do movimento artístico, sem querer ser de vanguarda — e deixou um legado que vai muito além das bandeirinhas

 

Mistério no Mar - A cativante cena litorânea: figura enigmática que é meio sereia, meio Iemanjá 


Um século atrás, a elite paulistana assistia aturdida às ousadias da Semana de 22 — mas o jovem Alfredo Volpi (1896-1988) não estava nem aí para esse trem que seria conhecido como modernismo. Ele tinha, de fato, mais que fazer: italiano pobre, que viera ainda criança de Lucca, na Toscana, trabalhava na construção civil para garantir o sustento.

Àquela altura, Tarsila do Amaral estudava na Europa com luminares como Fernand Léger; Oswald e Mário de Andrade, bem como Cândido Portinari, frequentavam os salões endinheirados da Pauliceia.

Volpi, em contraste, estudara só até o ginásio. Mais um rosto em meio à massa de imigrantes da metrópole, foi encanador, marceneiro e, finalmente, pintor de paredes. É uma ironia pensar que um dos artistas plásticos mais reconhecíveis e valorizados hoje no país, com suas incontornáveis bandeirinhas, atuasse então como mero preparador das superfícies, nas quais outros pintores decorativos fariam seus trabalhos. Como ele foi de operário dos pincéis, a nome central da arte moderna brasileira, é uma pergunta respondida com louvor pela mostra Volpi Popular — que acaba de estrear no Masp, em São Paulo.


Marca Registrada - As inconfundíveis fachadas e adereços juninos: simplicidade

Volpi nunca se identificou com as vanguardas modernistas, e era avesso a divagações teóricas: homem prático, burilou sua pintura a partir da labuta diária como artesão. ‘Ele era um mestre autodidata e intuitivo. Em vez de se associar a movimentos, preferia trabalhar tranquilo em seu ateliê no bairro do Cambuci, fumando um cigarrinho de palha’, diz o curador-­chefe do Masp, Tomás Toledo.

Por trás da humildade inquebrantável, porém, havia um artista bem-informado sobre as questões da arte de seu tempo. Ainda que seu reconhecimento tenha sido tardio: até os anos 1950, alguns estudiosos esnobavam o caráter supostamente naïf (ou ingênuo) de sua obra. Um dos responsáveis por quebrar esse preconceito, o crítico Mário Pedrosa, notou que Volpi ‘passou, naturalmente, por todas as fases da pintura moderna, do impressionismo ao expressionismo, do fauvismo ao cubismo, até o abstracionismo’. 


Volpi: poucas palavras e muitos cigarrinhos de palha no ateliê


Absorção E Intimismo Em Volpi

A verdade é que Volpi foi muito além da soma desses ‘ismos’: assim como Tarsila e Portinari, ele alcançou a condição rara de artista não apenas inovador, mas popular.

A mostra do Masp, com cerca de 100 itens, investiga a ligação entre a vida do pintor, e um universo temático, que vai da arquitetura do casario simples, às festas e costumes sociais. Inspirações que não extraía das ruas agitadas de São Paulo, mas da mansidão do interior — são constantes em seus quadros cenas de Mogi das Cruzes, cidade paulista onde tinha uma chácara, e Itanhaém, no Litoral Sul do estado.

Volpi viveu alguns anos à beira-mar por recomendação médica: sua esposa, Judite, padecia de uma doença sobre a qual não se sabem detalhes.


Os anjos pintores

Sua união com Judite, aliás, aprofundou a conexão de Volpi com as raízes brasileiras. Entre filhos de sangue, e adotivos, o italiano criou dezenove crianças junto com a esposa negra.

Ele imortalizou Judite em uma tela na qual ela surge nua, de braços abertos. A admiração pelos afrodescendentes o levou a povoar muitas de suas obras com personagens de pele escura — o que configurava uma avançada piscadela para a diversidade no Brasil da primeira metade do século 20. Às vezes, Volpi não tinha pudor em afrontar o tradicionalismo católico: pintou um lindo anjinho, e até uma Madona com Menino Jesus, negros. 


Cores e Formas - Mais uma entre as muitas obras sem título do pintor: a beleza na diluição radical dos objetos


Volpi – Coleção Espaços da Arte Brasileira

Uma das virtudes da retrospectiva do Masp é expor esse Volpi, que vai além das bandeirinhas. Logo na entrada, o espectador é apresentado à sua vasta produção de imagens religiosas. Durante um período da vida, ele produziu gravuras de santos para sobreviver. Não considerava a atividade parte de sua obra.

Mas a linha que dividia o Volpi artesão, do Volpi artista, era tênue: ao mesmo tempo, fez estupendas pinturas do gênero. Ele se devotou também a outras formas de misticismo pop: uma tela em tons de verde e azul exibe uma graciosa figura feminina que é meio sereia, meio — possivelmente — Iemanjá. 


Ousadia - O quadro que mostra a Madona e o Menino Jesus negros: uma avançada piscadela para a diversidade


A dúvida sobre os tipos que povoam sua obra decorre de um dado peculiar: Volpi era um homem de poucas palavras, e não deu nome à muitos quadros, alimentando o mistério sobre seu universo.

Não se sabe ao certo, inclusive, como ele descobriu sua marca maior, as bandeirinhas. Reza uma teoria que, certo dia, teria se encantado ao ver Mogi das Cruzes toda decorada para as festas juninas. Outra vertente sustenta que elas teriam surgido de sua diluição obsessiva das formas arquitetônicas. Impossível elucidar se uma das versões procede — mas é fato que Volpi foi radicalizando o expediente com o tempo. ‘Mais que as paisagens, pessoas e objetos, ele se interessava pela simplificação das formas, e pela exploração das cores e texturas’, diz o curador Toledo.

Eis o feito de Volpi: em uma única e singela bandeirinha, ele sintetiza um imenso legado modernista.




Fonte: Marcelo Marthe | Veja Ed. 2778

 

(JA, Fev22)

 


quarta-feira, 18 de agosto de 2021

John Graz

Artista e designer suíço, introdutor da art déco no Brasil, ganha exposições na onda de revisão de personagens da Semana de 1922 



John Gras em seu Atelier, Genebra, Suíça, 1918


Ele pintou a fauna e a flora brasileiras, fez telas sobre comunidades indígenas, viajou até o Rio Grande do Sul para retratar os gaúchos, e a estados do Nordeste para representar a tradição do Bumba meu boi. Também se dedicou a desenhar móveis para as casas da elite paulistana, incluindo pormenores como fechaduras de portas e a disposição das plantas no ambiente.

Transitando entre as artes visuais e a arquitetura de interiores, o suíço John Graz —considerado um dos introdutores do estilo art déco no país— foi importante figura do meio intelectual paulistano no século 20, tendo publicado na revista Klaxon, e participado da Semana de Arte Moderna de 1922, com sete telas que pintou em Genebra, antes de se mudar para o Brasil.

Mesmo assim, seu nome é menos lembrado em comparação a outros artistas daquele período. Isto agora está mudando, graças à uma revisão dos participantes da Semana de 1922 -por conta do centenário do evento, em fevereiro do ano que vem-, atrelada à uma série de exposições.


Fogueira, década de 1930

Uma grande mostra aberta há pouco na Pina Estação, em São Paulo, e outras exposições na cidade, neste e no próximo ano, procuram dar conta da totalidade do trabalho de Graz, trazendo a público uma grande investigação de sua obra e diversas peças nunca vistas em público.

Graz ‘vem de uma formação nas artes decorativas, não existe separação entre artes visuais e arquitetura, mobiliário, mas uma tentativa de integração dessas várias manifestações artísticas’, diz Fernanda Pitta, curadora de ‘John Graz: Idílio Tropical e Moderno’, na Pina Estação, ao lado de Thierry Freitas.

Em 155 obras, sendo 42 recebidas de uma doação do Instituto John Graz, a mostra cobre cinco décadas da produção do artista, evidenciando seu fascínio com os tipos humanos, e as tradições do Brasil. Há um conjunto expressivo de guaches e aquarelas sobre índios, por exemplo, tema que perpassou a maior parte da vida produtiva do artista. 


Índios, Regina Gomide Graz, década de 30


As representações de pessoas com arco e flecha em meio à natureza ou descansando em redes sob a sombra de palmeiras apontam para uma aproximação idílica e um tanto genérica dos povos originários, afirma a curadora, no que ela considera um limite do trabalho de Graz.

Ao que se sabe, ele nunca estudou a fundo as tribos pelas quais tanto se interessava, diz Pitta, diferentemente de sua mulher, Regina Graz, que pesquisou as tecelagens de comunidades do alto Amazonas em busca de padrões para reproduzir em suas tapeçarias —alguns destes tapetes podem ser vistos no site do Museu de Arte Moderna, o MAM, na versão virtual da exposição ‘Desafios da Modernidade – Família Gomide-Graz nas Décadas de 1920 e 1930’. 


Gesso sem título, década de 1920


Embora o forte da mostra na Pina Estação sejam as pinturas, há também gessos, estudos de murais desenhados para interiores de residências e fotografias de ambientes projetados pelo artista, a exemplo do quarto do casal Antonieta e Caio Prado, uma família da elite cafeicultora paulista.

Pitta lembra que Graz trabalhava sob encomenda, transitando entre estilos distintos. Atuando como designer, realizou mobiliário de inspiração art nouveau, com formas arredondadas, os preferidos das elites antes de o modernismo e suas linhas geométricas entrarem em voga, e serem igualmente abraçados por ele, que então passou a decorar casas do arquiteto ucraniano Gregori Warchavchik, nome central do movimento moderno brasileiro.


Cadeira projetada pelo artista década de 1960 reeditada 2010


Na Pina Estação, há uma série de fotos em preto e branco de ambientes desenhados por Graz, além de uma cadeira de três pés em madeira nobre e uma poltrona. O forte do seu mobiliário, contudo, está na mostra do MAM, que reuniu seus famosos sofás e poltronas tubulares e algumas luminárias.

Uma das instituições por trás desta grande revisão é o Instituto John Graz, criado em 2005, em São Paulo, pela última mulher do artista, Annie. Ela preservou e catalogou o acervo e os documentos de Graz depois de sua morte, em 1980, até que, mais tarde, a neta, Claudia Taddei, assumiu a frente do instituto e iniciou o contato com instituições e colecionadores.

‘Nosso desejo é que as pessoas possam voltar a ter uma compreensão da obra do John como um todo’, afirma Taddei. Seu avô desenhava ambientes completos, amarrados num conceito único que incluía as pinturas ou murais e o mobiliário.


Despedida, 1930, de Antônio Gomide


O panorama do artista se completa com mais duas mostras. A primeira, no Museu de Arte Contemporânea da USP, o MAC, vai exibir dois estudos de murais que misturam paisagem tropical e elementos urbanos. As peças são parte de uma mostra que celebra a doação, para o museu, da coleção de mobiliário art déco dos colecionadores Fulvia e Adolpho Leirner, que reúne um conjunto de peças da época modernista tão caras à elite paulistana, como cadeiras de Flávio de Carvalho e o mobiliário da Casa Modernista de Warchawchik.

Ana Magalhães, diretora e curadora do MAC, afirma que as artes aplicadas —design, mobiliário e objetos pensados para a vida cotidiana— ‘nunca foram consideradas como uma produção da mesma relevância que as artes com A maiúsculo’.

Mas acrescenta que, nas últimas duas décadas, este movimento vem passando por uma revisão, sobretudo das peças produzidas na primeira metade do século 20, na qual John Graz e sua mulher, Regina, se incluem. Magalhães dá como exemplos a mostra dos 100 anos da Bauhaus, no Sesc Pompeia, em 2018, e o livro ‘Coleção Fulvia e Adolpho Leirner’, dos pesquisadores Ana Paula Cavalcanti Simioni e Luciano Migliaccio.

Por fim, está programada para o ano que vem uma exposição no Museu da Casa Brasileira focada no trabalho de Graz como designer e arquiteto de interiores, com peças nunca mostradas em público. Para Taddei, do instituto, ‘mais do que conhecido, Graz era respeitado pela sua inovação e pelo vanguardismo’.

 

JOHN GRAZ: IDÍLIO TROPICAL E MODERNO

PROJETOS PARA UM COTIDIANO MODERNO NO BRASIL

  • Quando - De 21 de agosto a agosto de 2022
  • Onde - MAC-USP - Av. Pedro Álvares Cabral, 1301, Vila Mariana, São Paulo; ter. a qui, das 11h às 19h; sex. a dom., das 11h às 21h
  • Preço - Grátis

 

 

 

Fonte: João Perassolo | FSP

 

(JA, Ago21)