Mostra no Itaú Cultural
dedicada ao arquiteto, pioneiro do modernismo, tem 200 objetos e até
realidade virtual
Cinemas monumentais, com mais de 3000 lugares. Apartamentos de quase 400 metros quadrados e janelas do chão ao teto. Fachadas
com afrescos de Di Cavalcanti e painéis de Burle Marx.
A São Paulo idealizada pelo arquiteto
Rino Levi na primeira metade do século 20 era
bem diferente daquela erguida hoje, em que poucas janelas permitem ver o
horizonte —e emolduram algo que não o muro do prédio vizinho.
Ainda assim, suas criações ajudaram a
formar a cidade que conhecemos. É o que mostra a ‘Ocupação Rino Levi’, que
acaba de entrar em cartaz no Itaú Cultural.
Com cerca de 200 itens, entre fotografias, plantas, croquis e
anotações, a maioria do acervo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de São Paulo, a FAU, ela ilustra o
papel do arquiteto na transformação de São Paulo em metrópole.
Ou melhor, os papéis. Levi não só
pensou edifícios para atender serviços e formas de lazer nascentes na época,
como criou prédios emblemáticos, que ainda hoje hipnotizam os pedestres nas
calçadas —um deles, hoje sede do Itaú, fica a dez quadras da mostra.
A maioria dessas criações foi
produzida sob encomenda para a iniciativa privada.
Arquiteto Rino Levi |
Um dos organizadores da exposição, a
professora Joana Mello, da FAU, explica que isso, aliado ao fato de que Levi
não era de esquerda, como a maioria dos arquitetos modernos, levou seu nome a
ser esquecido na ditadura militar. O resgate de sua obra só aconteceu na
redemocratização, a partir da década de 1980.
A despeito das divergências
políticas, Levi tem muitas semelhanças com seus contemporâneos, uma lista que
engloba Gregori Warchavchik, Lina Bo Bardi e Vilanova Artigas.
Como eles, o arquiteto prefere linhas
que se integram à paisagem. Seus trabalhos usam elementos que filtram a luz e
facilitam a circulação de ar, como cobogós e brise-soleils. E, tal qual seus
pares, ele acredita no que Mello chama de ‘síntese das artes’, a fusão da
arquitetura com o paisagismo e as artes visuais.
A funcionalidade é outro princípio
que ele partilha com os demais modernos. Os hospitais que criou, como o Antônio
Camargo, do Instituto Central do Câncer, e a maternidade do hospital da USP,
são estruturados para dificultar a disseminação de doenças. Suas cozinhas têm
janelas sobre a pia e acima dos armários, para aproveitar a luz natural e
ventilar o espaço.
Até os painéis que decoravam o
interior do UFA Palácio, cinema na avenida São João
depois rebatizado Art Palácio, tinham fins acústicos, conta Mello. A solução
foi tão bem-sucedida que Levi emendou projetos de outros três cinemas, o
Piratininga, o Ipiranga e o Universo. O último pode ser visitado numa
experiência em realidade virtual.
Interior do cinema Ufa Palácio, na avenida São João, é retratado em fotografia exibida na Ocupação Rino Levi, no Itaú Cultural |
Talvez mais do que seus pares, porém,
Levi elevava a natureza a protagonista das suas obras. Nas residências de
Castor Delgado Perez, hoje a galeria de arte Luciana Brito, e de Olivo Gomes,
em São José dos Campos, no interior paulista, grandes vidraças trazem para
dentro o verde dos arredores.
Afinal, a convivência com as plantas ‘dignifica
e eleva espiritualmente o homem’, escreveu o arquiteto. Talvez por isso, uma de
suas parcerias mais duradouras foi com o paisagista Burle Marx. Era comum que
ele acompanhasse o amigo em expedições botânicas pelo país. Foi numa dessas
viagens, à procura de bromélias, que ele morreu, aos 63 anos, em 1965.
Centro Cívico de Santo André |
A exposição termina com o projeto de
Levi para o Plano Piloto de Brasília. Em sua visão, em vez das construções
baixas do vencedor Lucio Costa, estariam prédios exíguos de 300 metros de altura —a mesma medida da torre Eiffel.
Cada um deles abrigaria corredores com lojas e serviços.
‘Levi estava preocupado em desenhar
uma cidade, e o Lucio, uma capital’, diz Mello.
Ocupação
Rino Levi
Itaú
Cultural, Av. Paulista, 149, São Paulo-SP
Ter.
a Sex., das 90h às 20h. Sab. E dom., das 11h às 20h
Até
12/04
Livre
Grátis
Fonte: Clara Balbi
| FSP
(JA,
Mar20)
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