Aos 63 anos e 38 de ofício, a artesã alagoana Vânia de Oliveira Santos tornou-se Mestre Imortal do Brasil, título conferido em setembro pela seção brasileira da IOV World (Organização Internacional de Folclore e Artes Populares), filiada à Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).
O trabalho de Vânia Oliveira tem como
principal motivo os folguedos de Alagoas, na busca de manutenção da história e
das danças folclóricas. O colorido chapéu de guerreiro é a sua marca. A peça,
rica em referências locais, já lhe deu o título de patrimônio vivo de Alagoas
em 2015 e, em 2020, o de mestra artesã.
A mãe e a avó eram bordadeiras e
costureiras, mas ela achava que não tinha jeito para trabalhos manuais. ‘Eu
gostava mesmo era de jogar bola. Fui da primeira seleção alagoana de basquete’.
Vânia abandonou o esporte e casou-se
aos 17 anos. Reconheceu a vocação pela arte
ao fazer lembranças de aniversário da filha mais velha, e os jogos e brinquedos
pedagógicos para a escola que a irmã dirigia.
Escolheu o tema folguedos, que são
festas populares que fazem parte do folclore no Nordeste, envolvendo música,
dança e teatro. ‘Sempre gostei dos folguedos. Eu brinquei pastoril e guerreiro,
mas meu pai não gostava, então eu brincava na escola, onde ele não via’.
Manter viva a cultura passou a ser prioridade. Produzir as peças, no entanto, era pouco. Ela passou a ensinar o ofício. ‘Sinto que através do repasse eu não deixo a cultura morrer, e sei que meus alunos serão mestre. Já tenho aluno mestre’. Para aperfeiçoar a didática, decidiu fazer curso superior à distância, e formou-se em pedagogia aos 52 anos.
Decidiu trabalhar pela valorização do
artesão, chegou à presidência da Falarte (Federação dos Artesãos de Alagoas), participou da construção do Plano
Nacional do Artesanato, do extinto Ministério da Cultura, em 2010, e contribui , junto a pesquisadoras da UnB (Universidade de Brasília), no Estudo do ecossistema de
inovação do artesanato.
Mestre Vânia afirma que a sua principal preocupação hoje é com a sobrevivência do artesão, agravada pela pandemia. ‘Fomos os primeiros a parar, e seremos os últimos a voltar. Durante o ano são realizadas quatro feiras nacionais, e até o momento não houve nenhuma. Se houver uma no final do ano, como o artesão vai participar? Que incentivo recebemos?’.
Mas ainda há espaço para mais planos.
‘Meu sonho é ver o reconhecimento do artesão. O artesanato é valorizado, mas o
artesão precisa de reconhecimento. O artesanato faz parte da cadeia produtiva
do turismo. Por isso tem que se ter um olhar para esse profissional’.
O título de mestre imortal é
concedido a artesãos reconhecidos e outorgados com títulos de Mestres da
Cultura Popular em suas localidades. ‘Serve de incentivo a milhares de mestres
deste Brasil que estão por aí se empenhando para não deixarem desaparecer a
cultura de seus antepassados’, afirma o presidente da organização no Brasil,
Clerton Vieira.
Fonte: Kátia Vasco | FSP
(JA, Out20)
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